Título: Compulsório e leilão, armas do BC
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2008, Finanças, p. C8

Se o pacote de ajuda ao sistema financeiro americano não for aprovado nos próximos dias, o Banco Central (BC) brasileiro deverá continuar e até mesmo aprofundar a estratégia adotada nas últimas semanas, segundo analistas ouvidos pelo Valor. Para reduzir problemas causados pela escassez de crédito externo, a autoridade monetária poderá ter de fazer mais leilões de dólares, com compromisso de recompra. Outra opção é diminuir mais os depósitos compulsórios dos bancos, para elevar a quantidade de dinheiro em circulação.

"O que o BC pode fazer primeiro é acalmar o mercado quando houver eventuais problemas de liquidez no câmbio", afirma o ex-presidente do BC Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria Integrada. Para isso, segundo ele, o melhor é seguir com os leilões de linha externa, com o compromisso de recomprar os recursos depois. Loyola considera que o BC pode até aumentar os volumes, caso a liquidez fique de fato muito escassa. Nos leilões já realizados, a oferta foi de US$ 500 milhões.

O ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander, também acha que essa é a resposta de curto prazo mais adequada que a autoridade monetária pode dar. Como Loyola, ele considera que o BC pode continuar com os leilões, eventualmente oferecendo um volume maior. "Mas isso não deve ser feito para alterar a trajetória do câmbio, e sim para atacar problemas de liquidez ou má formação de preços."

Schwartsman e Loyola consideram que o BC não deve pura e simplesmente vender dólares no mercado, o que implicaria uma redução do volume de reservas. Com os leilões com compromisso de recompra, o BC empresta dinheiro por um prazo determinado. "Eu seria muito conservador quanto à gestão das reservas", diz Loyola, notando que os mais de US$ 200 bilhões acumulados pelo BC são um seguro importante.

Dirceu Bezerra Jr., fundador da Rosenberg & Associados, acha que a crise financeira pode exigir novas reduções dos recolhimentos compulsórios. Na semana passada, o BC tomou medidas nesse sentido, que liberaram algo como R$ 13,2 bilhões para o mercado, especialmente para beneficiar os bancos pequenos e médios. "Se a liquidez continuar "empoçada" [concentrada em poucas instituições], pode ser necessário reduzir mais o compulsório". Loyola não descarta a idéia, mas entende que o BC deve esperar antes de voltar a diminuir o recolhimento.