Título: Desfecho nos EUA surpreende Meirelles
Autor: Jorge, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2008, Finanças, p. C8

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi surpreendido ontem pela decisão da Câmara dos Deputados dos EUA de rejeitar o plano de saneamento do sistema financeiro proposto pelo governo Bush. A informação foi recebida por ele após palestra realizada em Belo Horizonte.

"A situação é muito volátil e nós fizemos bem em não nos dedicarmos a previsões sobre a evolução da conjuntura internacional, porque acabamos de ter mais uma surpresa", afirmou Meirelles a uma platéia de empresários. Antes de viajar para Belo Horizonte, Meirelles se reuniu, pela manhã, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Embora reafirmando as condições mais robustas da economia brasileira, Meirelles acentuou, em sua palestra, a delicada situação atual do mercado financeiro internacional. "O Brasil tem condições hoje de enfrentar com maior serenidade a situação, mas não quer dizer que devemos subestimar, porque é uma crise da maior gravidade", disse Meirelles. "Não subestimamos a crise de maneira alguma. Estamos sintonizados, minuto a minuto, com o que está acontecendo no mundo todo e com possíveis consequências para o Brasil e preparados para levar isso em conta."

Segundo ele, os efeitos da crise para a economia brasileira deverão ser bem mais brandos do que no passado, devido à menor vulnerabilidade externa do país. "Hoje temos uma posição credora no mercado futuro de derivativos e não temos dívida cambial doméstica. Além do mais, na área externa, a dívida total do país é menor do que as reservas internacionais."

Para Meirelles, a economia brasileira pode ser contaminada pelo menor ritmo da atividade econômica mundial, o que reduziria exportações. Por outro lado, a escassez de linhas de financiamento internacionais, embora possa afetar o Brasil, teria impacto modesto. "O crédito externo representa pouco menos de 10% da oferta doméstica de crédito e o Banco Central está atento a isso, tomando medidas para assegurar a liquidez."

Para Antônio Matos do Vale, diretor de liquidações e desestatização do BC, "a confiança do mercado ficou abalada em função dos acontecimentos dos últimos dias e isso pode afetar o canal de crédito, começando pelo lado internacional, e pode ser que chegue ao Brasil. Mas não acredito que venha com a intensidade que deve chegar a outros países".