Título: Governo pode apoiar pequeno e médio exportador
Autor: Leo, Sergio; Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2008, Brasil, p. A3

Pequenas e médias exportadoras são as mais ameaçadas, no Brasil, pela retração do crédito com a crise financeira mundial, e terão tratamento especial por parte do governo. O governo prepara medidas "criativas" para ampliar o crédito das empresas exportadoras e garantir a expansão do comércio em um cenário d e turbulência, segundo confirmou o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge. As primeiras propostas para enfrentar o risco de contração do crédito serão levadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva até a próxima quinta-feira, informou.

Lula discutiu com alguns de seus principais auxiliares as ameaças ao Brasil com a crise que provocou o colapso de instituições financeiras tradicionais, nos Estados Unidos e Europa. As exportações podem ser duramente afetadas, porque o financiamento aos compradores no exterior já é maior que os mecanismos internos de financiamento aos exportadores, como o ACC e ACE. As linhas externas respondem por US$ 23 bilhões e o ACC e ACE, mecanismos de adiantamento de pagamentos aos exportadores, cerca de US$ 20 bilhões.

Uma contração de crédito pode deixar os exportadores sem essa alternativa, o que seria sentido mais fortemente pelas empresas menores. Até agora, porém, segundo avaliação dos auxiliares de Lula, não se registraram problemas sérios de exportadores em suas fontes de crédito. Lula pediu aos ministros que mantenham vigilância sobre as condições de mercado e busquem alternativas para o crédito.

Miguel Jorge revelou que estuda medias "criativas" ao participar de uma cerimônia na Confederação Nacional da Indústria (CNI), acompanhado do secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral. Segundo explicou Barral, o presidente Lula pediu monitoramento "completo e constante" dos efeitos da turbulência financeira sobre a economia do Brasil. Isso significa levar ao Palácio do Planalto dois relatórios por semana dos principais indicadores econômicos.

Barral afirmou que, neste momento, há muito do que ele chamou de "efeito pânico" no mercado. "Estudamos medidas com o Banco Central. Os principais problemas são o crédito no curto prazo e a expansão do comércio no médio prazo", disse.

O ministro chamou de medidas óbvias os aumentos dos Adiantamentos de Contratos de Câmbio (ACC) e do Programa de Financiamento às Exportações (Proex), operado pelo Banco do Brasil. O reforço da capacidade de fomento do BNDES também foi citado. "Temos de trabalhar com coisas não óbvias, porque uma crise como essa é absolutamente nova. Acredito que não tem mais ninguém vivo que passou pela crise dos anos 30. Temos de ser criativos", explicou.

Para Miguel Jorge, as medidas a serem sugeridas pelo grupo de trabalho - ministros da Fazenda, do Desenvolvimento e do Banco Central - deverão ser concretizadas assim que aprovadas por Lula. Ele garante que não há notícias de cancelamento dos planos de investimento já anunciados para o Brasil. Índia, China, Brasil e Rússia, os países emergentes mais dinâmicos, não estão no centro da crise, lembrou o ministro.

Segundo um dos participantes da reunião de segunda-feira com Lula, o presidente faz questão de que o socorro aos exportadores, se necessário, não comprometa o que considera um patrimônio de credibilidade acumulado pela equipe econômica. As medidas a serem adotadas devem ser calibradas com o Banco Central para evitar pressões inflacionárias. Não pode haver mudanças bruscas que afetem a imagem de executor de uma política macroeconômica responsável, e nada será feito que contrarie o sistema de flutuação do câmbio.

A equipe que se reuniu com o presidente Lula avalia que o Brasil tem condições de receber de volta os fluxos de crédito e investimento, quando passar o período de "pânico", por isso, nas palavras de um importante integrante da equipe, "ninguém deve inventar moda".

Apesar da falta de clareza sobre o que poderá ocorrer em 2009, alguns empresários mostram tranqüilidade. O presidente do grupo de indústrias têxteis Coteminas, Josué Gomes da Silva, admitiu que deverá enfrentar retração de consumo no mercado americano, mas recomendou serenidade. Sua empresa não está usando linhas de financiamento às exportações. Gomes da Silva, que dirige o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), informou que a entidade vai realizar um seminário para propor medidas para a economia. "Não tenho dúvida que, passado o pior momento da crise, as primeiras linhas reabertas serão para o Brasil", disse.

O forte estresse causado pela crise financeira é, na opinião do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), boa oportunidade para o Brasil retomar a agenda perdida das reformas estruturais. Além do aperfeiçoamento do sistema tributário e da desoneração do investimento e da produção, ele defendeu uma política fiscal cuidadosa para elevar a poupança interna e a redução dos recolhimentos compulsórios impostos aos bancos, o que daria mais liquidez e crédito ao mercado.