Título: PT joga Dilma à esquerda
Autor: Pariz, Tiago ; Foreque; Flávia
Fonte: Correio Braziliense, 20/02/2010, Política, p. 3

Partido aprova programa de governo mais radical para a pré-candidata ao Planalto. Legenda oficializa ainda a decisão de Lula de intervir nos palanques estaduais

Dutra: veto à proposta de colocar o PMDB como preferencial na aliança mostra o jogo duro na campanha

O Congresso do PT radicalizou o programa de governo da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e ampliou os poderes do Diretório Nacional nas decisões estaduais. Ao levantar bandeiras deixadas de lado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como taxação de grandes fortunas e defesa da jornada de 40 horas semanais, o partido mostrou que tentará imprimir em sua pré-candidata um rótulo de esquerda. É o Partido dos Trabalhadores mais perto de sua fundação, em 1980, do que da legenda vitoriosa em 2002.

Se por um lado o partido reforçou o pragmatismo do presidente Lula neste segundo dia do Congresso que vai chancelar Dilma como a pré-candidata do partido, por outro buscou aproximar-se da militância de base radical. O texto do PT, que será base de discussão dos partidos aliados, faz uma defesa enfática da redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, critica a homofobia nas Forças Armadas, reforça a necessidade de combate ao monopólio dos meios de comunicação e prega a taxação das grandes fortunas. O texto original dizia que era necessária ¿a construção de consenso para lograr as 40h¿. A emenda aprovada prevê ¿compromisso com a defesa da jornada de 40h sem prejuízo ao salário¿. O texto que constará nas diretrizes do programa de governo do PT faz uma crítica à posição do general Raymundo Nonato de Cerqueira Filho que, em audiência no Senado, disse ser contra a presença de gays nas Forças Armadas. ¿É salutar aprovar uma proposta contra a homofobia. Isso não impede as manifestações contrárias, mas esse é um debate que está sendo feito em todo o mundo¿, disse o ex-ministro da Justiça, Tarso Genro.

Também foi aprovado apoio incondicional ao Programa Nacional de Direitos Humanos, que causou polêmica na caserna por propor a criação de uma Comissão da Verdade para apurar os crimes cometidos durante a ditadura militar (1964-1985). A taxação de grandes fortunas foi incluída no texto sobre reforma tributária. Essa é uma bandeira antiga do PT que permeou todas discussões da reforma no Congresso, mas não reuniu apoio para sair do papel. A guinada à esquerda ocorreu num momento que o Diretório Nacional acabou com a autonomia dos dirigentes estaduais para decidir sobre candidaturas próprias e políticas de aliança.

Prioridade A cúpula da legenda argumentou que liberar os estados para fazer o que desejarem levaria o PT a se transformar num PMDB. ¿O PT não é o PMDB. É um partido nacional de política nacional e nossa prioridade é eleger a Dilma¿, disse o deputado Jilmar Tatto (SP), da corrente PT de Luta e de Massas. Para o secretário de Movimentos Populares, Renato Simões, a legenda do presidente da República está sendo jogada para escanteio na eleição. ¿Deve ser prioridade lançar candidatos em qualquer nível. Por essa tática, aos adversários tudo pode, ao PT nada diz respeito¿, criticou Simões. A estratégia é destinada para os estados que há dificuldade para formalizar aliança com o PMDB, como o Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em Minas, o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel e o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, estão num braço de ferro para saber quem será candidato.

Enquanto isso, o PMDB cobra uma solução por não querer um petista contra o ministro das Comunicações, Hélio Costa. No Rio de Janeiro, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, quase colocou o acordo com os peemedebistas em risco ao ameaçar se lançar ao governo contra o atual mandatário Sérgio Cabral. A aliança dos dois partidos anda com problemas também na Bahia, no Ceará, no Pará, no Mato Grosso do Sul e no Paraná.

O ex-presidente do partido deputado Ricardo Berzoini colocou mais lenha na fogueira na questão de Minas Gerais. Ele rejeitou a tese levantada por Costa para fazer um levantamento de intenção de votos. Qual dos três tivesse maior percentual seria o indicado. ¿Não vale a pena fazer uma pesquisa. A população não assimilou os candidatos ainda e ficaria superficial¿, disse o antigo dirigente. O partido rejeitou fazer um maior afago aos principais aliados. Proposta dos deputados paulistas Carlos Zarattini e José Genoino de colocar o PMDB como preferencial na aliança foi derrubada por José Eduardo Dutra. O texto menciona apenas alianças com partidos aliados. ¿O PMDB está contemplado nisso¿, defendeu Berzoini.

O PT não é o PMDB. É um partido nacional de política nacional e nossa prioridade é eleger a Dilma¿

Deputado Jilmar Tatto, da corrente PT de Luta e de Massas