Título: Com Chávez, Lula reconhece gravidade da crise mundial
Autor: Chiaretti, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2008, Brasil, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou o tom do discurso, ontem, e reconheceu a gravidade da crise financeira mundial. "A crise é muito séria e tão profunda que nós ainda não sabemos o tamanho da crise. Certamente, talvez seja uma das maiores crise econômicas que o mundo já viu. Poderemos correr riscos, porque uma recessão em caráter mundial pode trazer prejuízos para todos nós. Entretanto, estamos mais sólidos, estamos mais precavidos. O nosso sistema financeiro não está envolvido no subprime. Nós fizemos as lições de casa e eles não fizeram", disse Lula.

Apesar de revelar preocupação, Lula garantiu que não existe um "gabinete de crise" [grupo ministerial formado para tratar do assunto no Brasil], mas declarou que tem se reunido sistematicamente com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e com os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, para tratar da política econômica nacional.

"Até o momento, não tivemos problemas com a crise financeira dos Estados Unidos. O que pode acontecer com alguns países, não só com o Brasil, é que a crise gere problemas de crédito. Mas tenho me reunido sistematicamente com ministros e com o presidente do Banco Central. Em se tratando de política econômica, o trabalho deve ser feito com tranqüilidade e transparência", afirmou.

Sentado ao lado do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, Lula aproveitou para enviar uma mensagem. "A mensagem que eu poderia dar é que é o momento de acreditar neste país, acreditar no mercado interno deste país, acreditar que nós não seremos vítimas como já fomos outras vezes e, ao mesmo tempo torcer, para que os americanos resolvam o problema."

Ao chegar à capital amazonense, na manhã da terça-feira, Lula respondeu bem-humorado ao ser perguntado sobre se estava preocupado com a situação dos mercados. "Neste momento, quem está mais preocupado com isso é o Bush", disse. Após encontro privado com Lula, em Manaus, o presidente venezuelano disse que nenhum país pode dizer que não será afetado pela crise financeira dos Estados Unidos. Na opinião de Hugo Chávez, é preciso garantir mais integração entre os países latino-americanos para fortalecer as economias dessas nações.

"A crise é muito séria e não sabemos o seu tamanho. Ninguém sabe até onde vai chegar este crash. Eu sou um dos que crêem que o crash do neoliberalismo vai ser pior do que o de 1929 e vai afetar o mundo inteiro. Nenhum país pode dizer que não será afetado", avaliou Chávez. "O modelo econômico desenvolvido pelos Estados Unidos está terminalmente doente", acrescentou. Rafael Corrêa, presidente do Equador, acha que a crise pode atingir economias como a do México, que está no Nafta.

Ao chegar para reunião com o presidente Lula, em Manaus, o presidente boliviano Evo Morales fez ataques ao capitalismo e criticou os Estados Unidos pela crise financeira internacional. "Eu disse na ONU [Organização das Nações Unidas] que onde está o capitalismo há ataques, exploração e pobreza. E não me equivoquei a dizer isso", afirmou Evo.

O líder do governo na Câmara dos Deputados, deputado Henrique Fontana (PT-RS), disse que há intenção de apressar a votação da proposta de adesão da Venezuela ao Mercosul após as eleições municipais. O protocolo foi assinada pelos países que integram o bloco em 2006, mas ainda não entrou em vigor. Em dezembro, Lula promoverá uma reunião para marcar o fim do mandato temporário do Brasil na presidência do Mercosul e gostaria de anunciar oficialmente a conclusão do processo.

A proposta da adesão venezuelana ao bloco, que tramita na Câmara desde 2007, está pronta para ser incluída na pauta do plenário. A medida depende, no entanto, de um acordo entre os líderes partidários sobre o tema, o que não ocorre há mais de um ano. "Sem dúvida, o ingresso da Venezuela no Mercosul está no grupo de temas que o governo considera muito importantes", disse Fontana. (Agências noticiosas)