Título: Presidentes reforçam negócios bilaterais
Autor: Chiaretti, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2008, Brasil, p. A4

O encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, ontem, em Manaus, serviu para reforçar as negociações comerciais entre Brasil e Venezuela, em meio a manifestações de preocupação com os efeitos da crise financeira mundial na economia latinoamericana. Entre os acordos mais importantes firmados ontem há alguns passos adiante na empresa que comandará a refinaria Abreu Lima, em Pernambuco, e a assinatura de um contrato entre a Andrade Gutierrez e a Empresa de Produção Siderúrgica Nacional para construção de uma siderúrgica na Venezuela, um investimento no valor de US$ 1,8 bilhão. AP Photo/Eraldo Peres

Hugo Chávez, presidente da Venezuela, e Lula, presidente do Brasil: projeto da refinaria Abreu Lima, em Pernambuco, em ainda segue sem solução definitiva

Foi finalizado o texto do acordo de acionistas e o estatuto para a sociedade entre a Petrobras e a estatal venezuelana do petróleo, a PDVSA. A Petrobras terá 60% da nova empresa e a PDVSA, 40%, conforme previsto anteriormente. O diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, espera que o acordo esteja fechado até o final do ano. Há ainda três eixos de pendências a serem acertados ) - o fluxo de suprimentos, a avaliação de quanto a Petrobras já investiu no projeto (e posterior aporte de recursos do sócio) e o plano de negócios da refinaria.

O projeto total é de US$ 4 bilhões (em valores de dezembro de 2006) e Costa estima que só em terraplanagem a Petrobras já tenha gasto R$ 450 milhões - o custo com equipamentos, diz, é maior ainda. "Estamos contratando uma empresa independente que vai avaliar os custos que fizemos até setembro", diz Costa. A outra ponta é fechar o ponto que define a compra e venda do petróleo. A Petrobras deve fornecer o equivalente a 100 mil barris/dia e a parceira venezuelana, outro tanto. Estes contratos definem regime de preços, qualidade do petróleo e penalidades na interrupção de fornecimento, por exemplo. O terceiro ponto a definir é o plano de negócios da refinaria - o que será investido ou como a empresa irá operar.

A previsão é que a empresa comece a refinar em 2010 e processos de hidrotratamento e coqueamento retardado aconteçam em 2011. A refinaria deve concentrar a produção em diesel (55 a 60% da produção) e também fabricará nafta e coque. A intenção é produzir 200 mil barris/dia. "Não vale a pena produzir gasolina em refinarias novas", diz Costa, lembrando que há 28 anos o Brasil não inaugura uma empresa do gênero. O consumo de gasolina vem caindo no Brasil, como conseqüência do aumento dos carros flex fuel, da mistura gasolina-etanol e do uso mais disseminado do gás natural. Mas o Brasil importa diesel. "Esta refinaria é muito importante para o Brasil", argumenta.

O diesel produzido na nova refinaria será bem mais "limpo" que o atual. Terá 10 ppm de enxofre, bem enquadrado à resolução Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) que entrará em vigor no início de 2009 e prevê um máximo de 50 ppm de enxofre. A adequação do diesel produzido atualmente pela Petrobras à norma tem sido motivo de intensa polêmica.

Outro acordo importante assinado ontem entre os dois países foi o da construção de uma siderúrgica na Venezuela. A construção, o fornecimento de equipamentos e a montagem da fábrica com capacidade de produção de 1,5 milhão de toneladas de aço líquido por ano no Estado de Bolívar estão previstos no contrato assinado entre a Andrade Gutierrez e a Empresa de Produção Social Siderúrgica Nacional, da Venezuela. Foram assinados outros compromissos nas áreas de habitação, produção de leite e criação de gado leiteiro, produção de soja e serviços aéreos. A Andrade, em nota, confirmou o contarto.

Acordos entre a PDVSA e a Abimaq, que espera tornar-se grande fornecedora de equipamentos para exploração petrolífera substituindo os fornecedores americanos não foram assinados ontem. A expectativa dos diretores da entidade é que este mercado tenha um potencial de negócios de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões nos próximos três anos. Também estão em negociação entre os dois países o fornecimento de equipamentos para a montagem de outras indústrias de alimentos.