Título: Odebrecht errou do começo ao fim, diz Rafael Correa
Autor: Chiaretti, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2008, Internacional, p. A12

O presidente do Equador, Rafael Correa, disse ontem em Manaus que a empresa Odebrecht enviou um documento ao governo aceitando todas as condições que havia recusado antes. A disputa entre Quito e a empresa brasileira por conta do impasse provocado pelos problemas na hidrelétrica de São Francisco culminaram, na semana passada, com a expulsão da construtora do Equador. "Eles não entenderam que nós não estávamos negociando. Estávamos exigindo Justiça", disse Correa ao final da reunião bilateral com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Eles não entenderam que desde janeiro de 2007 o país é outro. Vamos analisar o caso, mas em princípio a decisão segue de pé: a Odebrecht está fora do país."

Segundo o presidente equatoriano, a empresa brasileira teria aceito todas as condições que antes havia rechaçado por duas vezes, sem alterar "ponto ou vírgula". Lembrou que assinou o decreto determinando a expulsão na terça-feira da semana passada e que a carta teria chegado a Quito dois dias depois. "Vocês sabem que no domingo tivemos uma decisão histórica no País e não tivemos tempo de estudar o caso. Tomaremos nossa decisão definitiva nos próximos dias", disse Correa.

"Os executivos da Odebrecht se equivocaram do começo ao fim. Talvez estivessem acostumados a negociar assim com governos anteriores. Nós não estávamos negociando com eles, estávamos exigindo nossos direitos." E prosseguiu: "Em princípio não vamos rever nada, mas insisto que há um novo elemento, esta comunicação aceitando todas as condições."

Correa elogiou a postura de Lula na crise, lembrando que o presidente brasileiro considera que se trata de um problema entre um Estado e uma empresa privada. "Eu o agradeci muitíssimo pelo tino e respeito com que sempre trata o governo equatoriano e o respeito com que trata uma decisão soberana do governo equatoriano."

"Temos conhecimento, o governo do Equador mencionou, a existência de uma carta que cria uma situação nova", disse pouco antes da entrevista de Correa o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, sem dar mais detalhes. "Foi uma conversa positiva em que, sem entrar no mérito específico da questão, que não nos cabe, se procuraram soluções satisfatórias do ponto de vista da soberania do Equador, mas também pragmáticas", acrescentou Amorim.

Nos meios diplomáticos, havia a expectativa de que o caso da Odebrecht seria discutido pelos presidentes Lula e Correa e que uma solução sairia do encontro.

Na semana passada, a empresa foi expulsa do país e teve seus ativos confiscados. A razão da medida foi um impasse na negociação entre Quito e o consórcio de empresas liderado pela Odebrecht. A construtora foi responsável pela obra de uma hidrelétrica que por problemas técnicos teve de ser paralisada. Quito exigia ser ressarcida pela empresa pela interrupção de geração de energia.

No encontro entre presidentes, que também contou com Evo Morales, da Bolívia, e Hugo Chávez, da Venezuela, um tema forte foi a integração física entre os países, analisando-se opções multimodais que como hidrovias e estradas.