Título: Amorim rechaça críticas de Mandelson a tarifas
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2008, Internacional, p. A13

O ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, fez questão de responder às acusações do comissário europeu para o Comércio, Peter Mandelson, contra as tarifas aplicadas por países em desenvolvimento a exportações - como as que a Argentina aplica à soja. Mandelson não tem "autoridade", acusou Amorim, lembrando que causa mais distorções no comércio internacional a prática européia da escalada tarifária - pela qual produtos industrializados recebem tarifas mais altas que suas matérias-primas, desencorajando a venda de mercadorias de maior valor agregado por países produtores de commodities.

"Quem tem escalada tarifária não tem autoridade para falar em imposto a exportação", declarou Amorim, numa demonstração do clima de irritação que cerca os principais negociadores da rodada de liberalização comercial na Organização Mundial do Comércio (OMC), a chamada rodada Doha. Mandelson, segundo informou o Valor, anunciou a representantes da indústria e países membros da UE que adotará uma postura agressiva contra países que mantém restrições à s próprias exportações, e pretende incluir cláusulas proibindo esse tipo de medida, em acordos comerciais como o negociado entre os europeus e o Mercosul.

A pronta resposta de Amorim, no mesmo tom ríspido de Mandelson, revela o aumento nas dificuldades de diálogo entre os principais atores na negociação da OMC. Amorim tinha a expectativa de que fosse convocada uma reunião de altos negociadores da OMC, nesta semana, para uma nova tentativa de se tirar a rodada do impasse nas negociações. Elas foram interrompidas em julho por desentendimentos principalmente entre Estados Unidos e Índia em torno de medidas de tratamento especial para barreiras à importação em países em desenvolvimento. A reunião de altos funcionários não pôde se realizar, devido as discordâncias entre os países.

Também foi frustrada a tentativa de Amorim de fazer uma reunião com o ministro de Comércio indiano, Kamal Nath. Nath, parceiro do Brasil no G-20, que reúne países em desenvolvimento opostos às propostas dos EUA e União Européia para agricultura na OMC, alegou problemas de agenda para sugerir a Amorim que se reúnam só no fim da primeira quinzena de outubro, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estará em visita oficial a Nova Déli.

Há dias, o indiano divulgou uma carta em que faz acusações duras aos outros negociadores na OMC, inclusive o Brasil, e os culpa pelo fracasso das negociações no primeiro semestre deste ano. O desinteresse da Índia e da China nos esforços para reativar as negociações da rodada é evidente em Genebra.

O governo brasileiro resiste, porém, em descartar a rodada Doha do horizonte de negociações do país, enquanto não for decretada oficialmente a suspensão das negociações - algo inevitável após as eleições nos EUA, e a aproximação das eleições na Índia, em 2009. Os negociadores brasileiros argumentam que só uma negociação multilateral como a da OMC permitirá remover barreiras ou práticas que distorcem o comércio como os subsídios agrícolas ou altas tarifas para alimentos fixadas pelos países desenvolvidos.