Título: Versões do Bolsa Família dominam campanhas no NE
Autor: Mandl, Carolina; Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2008, Especial, p. A16

A popularidade do Bolsa Família dá origem nestas eleições a versões municipais do programa federal. No Nordeste, região que abriga quase metade das famílias contempladas pelo projeto do Ministério do Desenvolvimento Social, proliferam entre os candidatos promessas de transferências de renda.

As propostas - que prevêem de depósitos mensais a partir de R$ 100 a parcelas únicas de até R$ 2 mil - são as mais variadas. Há o Bolsa Saúde, para comprar remédio; o Bolsa Aprendiz, para quem faz cursos profissionalizantes; o Bolsa Uniforme, para comprar o material escolar; o Bolsa Cotista, para os universitários; e até o Retorna para Casa, para famílias que acolham parentes menores de idade que estejam em abrigos públicos.

A diversidade de projetos também é acompanhada pela pluralidade partidária dos postulantes nordestinos. O que os candidatos observam é que, seja coincidência ou não, o Nordeste é a região onde ao mesmo tempo em que há mais famílias beneficiadas pelo programa (48% do total), o presidente Luiz Inácio Lula atinge o maior índice de aprovação do país, 92% segundo pesquisa CNI/Ibope. Além disso, em 2006, Lula foi reeleito com votação expressiva das camadas mais pobres da população, justamente aquelas que recebem o Bolsa Família.

Estudo publicado em 2007 pelos pesquisadores Francisco Cribari, Tatiane de Menezes e Themis Abensur, da Universidade Federal de Pernambuco, mostrou que o Bolsa Família teve significativa importância no resultado das eleições para presidente em 2006. Pelos cálculos dos pesquisadores, um aumento de 20% no número de famílias beneficiadas seria capaz de aumentar em 2% o número de votos de Lula. Já uma redução de 10% levaria a uma diminuição de 1,17% nos votos.

Por isso, lançar um "bolsa alguma coisa" não tem parecido má idéia a ninguém. Em Maceió, é Solange Jurema, do PSDB, que propõe depósitos mensais de R$ 100 para 10 mil estudantes. Solange tem apenas 4% das intenções de voto na capital alagoana. Já em Teresina, é o próprio PT, do candidato José Nazareno Fonteles, que oferece verba para a compra de uniformes e bolsas para jovens alunos. A disputa em na capital piauiense deve ser liquidada já no primeiro turno com a vitória do tucano, Sílvio Mendes.

Os candidatos admitem que o programa do governo Lula é um bom puxador de votos. "O Bolsa Família foi só idéia feliz do governo Lula. Tem uma ótima marca", avalia José Américo Moreira, coordenador de campanha de Solange, em Maceió.

Eles defendem, contudo, que a motivação para lançar as novas versões de transferência de renda vai além das eleitoreiras. Em Fortaleza, Moroni Torgan (DEM) anuncia o Bolsa Saúde, um programa que dará um cartão com crédito para doentes crônicos comprarem seus medicamentos. "Remédio é tão importante quanto comida, por isso defendemos que não basta o Bolsa Família", afirma o coordenador de campanha Ruy Câmara.

Sheilla Pincovsky, coordenadora do plano de governo de Raul Henry (PMDB), no Recife, defende que dar uma bolsa de R$ 2 mil a quem cursar aulas profissionalizantes é uma boa forma de atrair os estudantes.

"Ter um programa de bolsa é importante para garantir a qualificação da mão-de-obra, sem a necessidade de os jovens carentes terem que ter um subemprego paralelo para se manter, como normalmente acontece."

Porém, segundo levantamento feito pelo Valor, há um fator em comum a todos os candidatos que oferecem os "bolsas alguma coisa": o lançamento de versões municipais do programa federal não está garantindo a liderança nas pesquisas de intenção de voto. Das nove capitais nordestinas, apenas no Recife quem faz propaganda de um novo projeto desse tipo está na frente. É o caso de João da Costa (PT), que promete R$ 100 para mães que auxiliarem no combate à violência entre jovens.

De qualquer forma, nenhum prefeito arrisca se afastar do Bolsa Família. Em Salvador, por exemplo, mesmo o candidato do Democratas, Antonio Carlos Magalhães Neto, faz questão de lembrar em sua propaganda que lutou no Congresso para aprovar um projeto de lei que reajuste o valor do benefício de acordo com a variação do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), indicador que, por muitas vezes, costuma superar a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o número oficial utilizado pelo governo para medir a inflação.

Outros candidatos, como João Hernique Carneiro, do PMDB, e o petista Walter Pinheiro, prometem ampliar a cobertura do Bolsa Família na cidade. Carneiro quer expandir também o auxílio de R$ 280 dado a estudantes que estão na Universidade Federal da Bahia (UFBA) pelo sistema de cotas.

No Recife, o receio de não estar atrelado ao programa é tanto que José Mendonça Filho (DEM) resolveu não só reafirmar compromisso com o Bolsa Família como também criar o Poupança Educação, que dará R$ 210 por mês para alunos com boas notas e alta freqüência.

Em Teresina, o candidato Nazareno, do PT, além de prometer acesso à internet sem fio a partir de prédios públicos e praças municipais, tem também dois programas voltados aos jovens que prevêem o pagamento de benefícios em dinheiro. Aqueles que tiverem entre 15 e 18 anos e que estejam em algum curso de capacitação profissional ou participem de atividades artísticas, culturais ou esportivas, receberão a chamada Bolsa Jovem, ainda sem valor definido.

Os mais novos serão beneficiados pelo Bolsa Uniforme, que será um dinheiro entregue para as famílias que possam comprar em empresas, cooperativas e em associações da comunidade local o fardamento para seus filhos. Dessa forma, Nazareno espera gerar renda e emprego no setor de confecções.

Já o atual prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, vai ampliar um benefício que já existe na capital sergipana desde dezembro de 2007. A prefeitura utilizar o cadastro do Bolsa Família para oferecer a famílias carentes uma ajuda que pode chegar até R$ 1 mil para a compra de material de construção. A idéia é que essas pessoas possam reformar suas casas ou melhorá-las. Para receber o dinheiro, que deverá ser gasto exclusivamente com o kit de materiais, as famílias precisam ter crianças de até seis anos, idosos ou pessoas com deficiência. Além disso, é preciso estar no cadastro único e ter renda per capita mensal de, no máximo, meio salário mínimo.

"É um projeto positivo e que vem disponibilizando uma grande contribuição para famílias que estão em situação de vulnerabilidade e a população tem respondido com muita satisfação", argumenta Yolanda de Oliveira Santos, coordenadora da secretaria de Assistência Social e Cidadania de Aracaju.