Título: Em meio à crise, estrangeiros desistem de leilão
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Fonte: Valor Econômico, 01/10/2008, Empresas, p. B7

A crise financeira mundial afastou alguns grupos estrangeiros do leilão de energia nova realizado ontem, mas mesmo assim o governo federal conseguiu garantir a entrega de mais de 3 mil MW médios a partir do ano de 2013. Ao todo, serão cerca de R$ 11 bilhões investidos para a construção das 28 usinas leiloadas ontem. O grande destaque foi a venda de termelétricas dominada por grupos nacionais. Os principais arremates foram fechados pelo consórcio MC² Energia que segundo o administrador da empresa, Marco Greco, vendeu o insumo a ser gerado por 15 projetos termelétricos. Dados do leilão mostram que esses empreendimentos vão gerar uma receita fixa anual de R$ 1,5 bilhão a partir de 2013.

Entre os outros destaques estão a brasileira Multiner, que vendeu três empreendimentos e deve investir R$ 1 bilhão, e a MPX Energia. Um dos empreendimentos vendidos pela empresa de Eike Batista foi a de Porto do Pecém II, que vai gerar uma receita de R$ 206 milhões. O projeto inicialmente contava com a participação do grupo português EDP Energias do Brasil, que anunciou a saída do investimento em função da crise dos mercados mundiais. Na avaliação da empresa, as condições de crédito incertas trouxeram um grande risco para levar o projeto adiante e por isso decidiram desistir do leilão.

A única usina hidrelétrica negociada ontem, a de Baixo Iguaçu, foi arrematada pela Neoenergia, do grupo Iberdrola. A Neoenergia terá 90% do empreendimento e a Desenvix, 10%. O negócio chegou a ficar ameaçado em função de uma liminar da Justiça Federal do Paraná, que anulou o licenciamento ambiental da usina. Mas a liminar foi cassada na madrugada de terça-feira pela presidente do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região, Silvia Gonçalves Groieb. A concessão foi licitada e a energia vendida por R$ 98,98 o MW/h, com entrega de 173 MW médios.

O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, e o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, disseram ontem estar entusiasmados com o resultado do leilão, pois chegaram a temer um esvaziamento em função da crise financeira que se agravou na segunda-feira. Tolmasquim disse inclusive que recebeu ligações de importantes executivos solicitando o adiamento do leilão. Mas este 7º leilão realizado dentro do novo modelo do setor foi o que mais vendeu energia, reflexo da forte demanda das distribuidoras. O total transacionado foi de R$ 60 bilhões.

Apesar do resultado positivo, entretanto, a maior parte da energia vendida é proveniente das térmicas movidas a óleo combustíveis que são mais caras e respondem por cerca de dois terços do que foi vendido ontem. O preço médio das termelétricas ficou em R$ 145 o MW/h. Mas são justamente as térmicas a óleo as de menor risco para os empreendedores neste momento de crise.

O presidente da Multiner, Jorge Boueri, explica que a construção dessas usinas só precisa começar um ano e meio antes do início da obrigação de se gerar a energia. Isso dá um prazo de alguns anos para que as condições de mercado se alterem. A Multiner vendeu ontem os empreendimentos de Pernambuco II, Termopower V e VI. A receita fixa anual foi estipulada em R$ 225 milhões pela geração de 104 MW médios de energia.

Das 27 usinas térmicas negociadas ontem na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), 17 são movidas a óleo combustível, quatro a Gás Natural Liquefeito (GNL), uma a carvão mineral importado (pertencente à MPX) e uma movida a bagaço de cana, da Cosan.

O leilão teve início com um atraso de quase duas horas em função de uma ameaça de bomba feita à CCEE. O Corpo de Bombeiros esvaziou o prédio para uma vistoria. Nenhum artefato foi encontrado nas dependências do edifício e o presidente da CCEE, Antonio Machado, disse que se a segurança fosse ameaçada era possível realizar o leilão de um outro edifício que possui um back up do sistema e cujo endereço não é divulgado. (JG)