Título: O sólido desmancha no ar
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Fonte: Valor Econômico, 01/10/2008, Investimentos, p. D1

Após vários momentos de puro pânico em setembro diante do agravamento da crise que afeta o sistema financeiro mundial, outubro começa com os olhos voltados para o pacote de resgate do governo americano às instituições financeiras. A maior economia do mundo, a americana, se desmancha em meio às perdas causadas pelos papéis "subprime", as hipotecas de alto risco. Para este mês, será preciso mais uma vez ter coração forte para agüentar as oscilações das aplicações financeiras. Nesse cenário incerto, os investimentos mais conservadores ligados à renda fixa levam vantagem.

Diante da forte volatilidade observada nos mercados, o ouro foi o ativo com maior valorização em setembro. Beneficiado pela alta do dólar, que subiu 16,45% só no mês passado, e dos preços no mercado internacional, o ouro encerrou o mês com retorno de 19,32%. Mesmo no ano, os ganhos não são nada desprezíveis: o ouro sobe 8,47% e o dólar, 7,15%. Na fuga do risco, a bolsa levou a pior. O Ibovespa ficou na lanterninha, com perda de 11,03%. Com isso, a bolsa acumula queda de 22,45% no ano.

Depois da rejeição no Congresso dos Estados Unidos ao plano de US$ 700 bilhões, espera-se uma segunda votação ainda nesta semana. Os olhos dos investidores ficarão voltados também para a Europa, onde os bancos centrais fizeram uma série de resgates de bancos, revelando um contágio rápido na região. Internamente, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne entre os dias 28 e 29 para decidir a taxa básica de juros, hoje em 13,75% ao ano.

Com tantas incertezas à vista, o porto seguro da renda fixa fica ainda mais atrativo neste mês. A crise já pressionou a remuneração paga pelos CDBs. Isso quer dizer que as taxas, que estão para lá de atrativas, devem ficar ainda maiores, já que as linhas externas de financiamento secaram. Há bancos que oferecem ganho de 100% do CDI mesmo para o varejo. Mas o investidor precisa ficar alerta ao risco de crédito, já que os CDBs são papéis privados e o maior risco está na quebra da instituição financeira. A boa notícia é que os balanços dos bancos estão mais transparentes e a fiscalização rigorosa. Pesa também a favor do CDB o fato de a aplicação contar com a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que assegura o investimento até o limite de R$ 60 mil por CPF.

Pode ser o momento para começar a prefixar as aplicações, avalia Fabio Susteras, economista do private banking do Banco Real. Num cenário mais apertado de crédito, a inflação pode se comportar melhor e o Banco Central pode rever sua política monetária, afirma.