Título: Governo prepara leilão de oito hidrelétricas em 2009
Autor: Rosas, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2008, Brasil, p. A5

O governo federal quer licitar pelo menos oito usinas hidrelétricas em 2009 e avalia que a crise financeira internacional não afetará os investimentos em petróleo e energia elétrica no Brasil. Segundo o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, os projetos no país garantem boa lucratividade e, por isso, atrairão recursos relativamente baratos. Ruy Baron/ Valor Márcio Zimmermann: licitação de usinas no Nordeste, Pará e Rio de Janeiro

"Haverá sempre recursos no mundo para determinadas obras", ressalta. "Recursos existem no mundo e têm que ser aplicados em algum lugar, senão ficam mofando e deixando de produzir. Eles serão mais caros para determinadas atividades, onde a lucratividade não é tão clara", acrescenta.

O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, também acredita que o setor elétrico brasileiro pode dar a investidores, em um momento de crise internacional, garantias comparativas em relação a outros ativos. Na visão de Kelman, para garantir essas vantagens, o Brasil precisa aperfeiçoar o ambiente para investimentos, com menor risco, melhor atuação da agência reguladora, melhor atuação do Judiciário e prática mais eficiente nos licenciamentos ambientais.

"Como qualquer produto, e o dinheiro também é um produto, quando escasseia aumenta o preço. O Brasil tem posição privilegiada, porque investimentos no setor elétrico brasileiro são sólidos e as empresas que aqui investiram têm tido resultados razoáveis", frisa Kelman. Segundo ele, no setor elétrico brasileiro não há "ativos de fachada", o que garante investimentos sólidos e rentáveis "ao longo de décadas".

"A crise talvez nos apresente uma oportunidade comparativa, com os investidores procurando oportunidades que lhes dão segurança a longo prazo", diz Kelman.

De acordo com Lobão, mesmo que a crise perdure por mais algum tempo, os investimentos em petróleo estarão garantidos, seja por recursos da própria Petrobras, seja pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Se for necessário, o Tesouro Nacional poderá socorrer a Petrobras", afirma, sem dar detalhes sobre como se daria este empréstimo.

Lobão recusa a pecha de ufanista e diz que apenas analisa as condições da economia nacional. "Eu não posso ser pessimista onde não vejo pessimismo. Eu sou um ufanista? Não. Eu estou vendo as coisas com clareza. Se não tivéssemos reservas e economia organizada, poderíamos ter dificuldades", diz.

O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, diz que para 2009 são esperados os leilões de Belo Monte, no Pará, Cambuci e Barra do Pomba, no Rio de Janeiro, e de mais cinco usinas no rio Parnaíba, no Nordeste. "Contratamos a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para os inventários e queremos ter as oito no ano que vem e ainda faremos de tudo para termos Teles Pires e Tapajós (ambas no Pará) até 2010."

Este ano houve duas licitações de hidrelétricas: Jirau, no rio Madeira, em Rondônia, e Baixo Iguaçu, no Paraná, que foi a única hidrelétrica incluída no leilão de A-5, realizado ontem em São Paulo.

"Se um marciano chegasse ao Brasil, ele não poderia entender a opção que fazem os brasileiros de descartar o potencial hidráulico que nós temos ainda para ser desenvolvido. Isso não faz sentido ambiental e econômico, e será difícil explicar para as próximas gerações a opção que estamos fazendo aqui. É fruto de uma visão míope de demonizar as hidrelétricas", diz Kelman. O diretor-geral da Aneel destaca que países desenvolvidos já usam cerca de 70% do seu potencial hidrelétrico, enquanto no Brasil essa fatia gira em torno de 30%.

"Restam as usinas nucleares, que demoram muito para ser construídas, a bioeletricidade e as térmicas a gás, que são boas, e as térmicas a óleo e a carvão. Os que falam de fontes alternativas desconsideram qual seria o impacto sobre o consumidor de energia elétrica", diz, lembrando que a energia solar custa cerca de dez vezes a hidrelétrica, e a eólica sai geralmente pelo dobro do preço.