Título: DEM conta com Serra e FHC para atrair Alckmin em possível 2º turno
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2008, Política, p. A8

Até agora, Serra tem-se mantido distante da campanha paulistana, depois de não ter convencido o ex-governador Geraldo Alckmin a retirar a sua candidatura pelo PSDB. Sem a presença de Alckmin na disputa, na hipótese do tucano não conseguir se recuperar nos últimos quatro dias de campanha eleitoral, Serra não teria mais impedimentos para apoiar Kassab. A adesão de Fernando Henrique é vista como estratégica pelo comando da campanha do DEM porque abriria caminho para que o próprio Alckmin declare formalmente apoio, uma hipótese que os aliados do ex-governador ainda descartam.

A partir de um possível apelo de Fernando Henrique, imagina-se que haveria espaço para envolver Alckmin no esforço de derrotar Marta Suplicy no segundo turno. Mas horizonte em relação às eleições estaduais de 2010 podem turvar o ambiente. Nem entre os tucanos serristas, nem entre os integrantes do DEM existe mais a disposição de oferecer a Alckmin a candidatura ao governo estadual, como foi feito no início do ano.

O candidato tucano procurou ontem dar uma demonstração de que ainda conta com suporte partidário e que permanece fechado a conversações envolvendo segundo turno. Ontem os presidentes nacional, estadual e municipal do PSDB criticaram, em documento, os dissidentes que apóiam Kassab e afirmando que fizeram um "esforço extraordinário", juntamente com o governador José Serra, para manter a aliança com o DEM.

Os dirigentes do PSDB disseram contestar o alinhamento de parte dos tucanos à campanha do prefeito já no primeiro turno. "Esse procedimento é recriminado pela direção do partido, que renova o seu integral apoio a candidatura de Geraldo Alckmin e insiste em que todos se concentrem na campanha do candidato tucano, trabalhando decididamente para que ela possa chegar ao segundo turno das eleições", diz a nota assinada pelo senador Sérgio Guerra, presidente nacional do partido, Antonio Carlos Mendes Thame , presidente do estadual de São Paulo e José Henrique Reis Lobo, presidente do diretório municipal.

Marta Suplicy, candidata do PT, não descartou a hipótese de se beneficiar no segundo turno com votos de apoiadores do PSDB, caso Kassab dispute com ela. A petista disse ter "dado" votos para o PSDB quando disputou o governo do Estado contra Mário Covas, em 1998, e ter ganho votos de tucanos quando disputou a prefeitura, em 2000, contra Paulo Maluf (PP). "Não é nada inédito. Mas agora o importante é deixar abrirem as urnas para a gente ver quem vai ser o candidato", disse, em campanha pelo em Grajaú, no extremo sul da cidade.

Na pesquisa do Datafolha divulgada ontem, Marta caiu dois pontos percentuais e aparece com 35% dos votos, oito pontos percentuais à frente de Kassab, com 27%. Alckmin tem 19% das intenções de voto. Desde o início da propaganda na televisão, em 19 de agosto, Marta caiu 6 pontos percentuais (tinha 41%) e Alckmin caiu cinco pontos (estava com 24%). Já Kassab cresceu 13 pontos (tinha 14%).

O clima na campanha de Marta é de que a disputa no segundo turno será de grande dificuldade, disputado "voto a voto". Apesar de ter rejeição maior de que Alckmin e Kassab, a petista procurou minimizar ontem o impacto disso no segundo turno e afirmou que pedirá auxílio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva de acordo com "a disponibilidade da agenda dele". "Não estou nada temerosa, pelo contrário, estou com muita tranqüilidade. Foi uma campanha para nós muito tranqüila, o tempo todo na liderança", disse. "Mas São Paulo é São Paulo, não é fácil, vai ser muito disputado."

Na reta final da campanha eleitoral, a petista aumentou a freqüência de críticas à gestão de Kassab e ontem, em campanha de rua, centrou seu discurso na "falta de médicos e de medicamentos" em unidades de atendimento de saúde e nos problemas do transporte público, como o trânsito e na qualidade dos ônibus que atendem a periferia. Na propaganda do horário eleitoral gratuito exibida às 13h, Kassab e Marta trocaram farpas. A petista disse que seu adversário só sabe copiar os programas dela e que quando não copia, tenta desqualificar propostas, como a promessa da campanha petista de internet grátis em toda a cidade. Kassab reclamou da situação que Marta deixou na área de saúde quando saiu do governo municipal, em 2004.

Na última propaganda do horário eleitoral, exibida à noite, os ataques sumiram. Alckmin repetiu a propaganda da manhã. Ele e sua família aparecem em uma sala de estar, sentados em um sofá branco, e destacaram o "espírito e princípios cristãos" e a "fé em Deus" que têm. Marta disse sentir-se mais "madura e preparada" - características reafirmadas nas palavras do presidente, que apareceu ao fim da propaganda. Kassab usou a primeira parte de seu programa para mostrar que é aliado de José Serra. a propaganda afirma que os líderes do PSDb aplaudiram a aliança entre Serra e Kassab, da chapa que concorreu à prefeitura em 2004 e foi vitoriosa.