Título: Só 0,5% a menos
Autor: Verdini, Liana
Fonte: Correio Braziliense, 20/02/2010, Economia, p. 16

Horário de verão chega ao fim. Queda no consumo é baixa, mas reduz a carga de energia, permitindo melhor gestão do sistema elétrico

Termina hoje, à meia-noite, o horário de verão, depois de 126 dias em vigor. Desta vez, os relógios devem ser atrasados em uma hora nos estados das regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Apesar de quatro meses acordando mais cedo, o que foi feito pelas populações do Distrito Federal, de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, a diminuição do consumo de energia deve alcançar apenas 0,5% ou cerca de 490 GWh no Sudeste e no Centro-Oeste e 136 GWh no Sul.

Os dados são do Ministério de Minas e Energia (MME), para o qual a redução da demanda nesses meses deve ficar em 4,4% nas regiões Sudeste e Centro-Oeste (1.780 MW) ¿ o suficiente para abastecer uma cidade com 5 milhões de habitantes. No Sul, a previsão deve ficar em 4,5% de queda na demanda (490 MW), o que serviria para abastecer uma cidade com 1,5 milhão de pessoas.

¿O horário de verão é adotado para que se possa aproveitar melhor a luz solar¿, explicou Ildo Wilson Grudtner, secretário adjunto de Energia Elétrica do MME. Ele destacou que esse mecanismo permite uma melhor gestão do fornecimento de energia, pois reduz o carregamento do sistema de transmissão, aumenta a flexiblidade e o controle de tensão e, se houver alguma contingência com o desligamento de linha, por exemplo, possibilita o corte de carga. Grudtner estima ainda que cerca de R$ 30 milhões deixaram de ser gastos nesta temporada com a geração de energia térmica.

Local

No Distrito Federal, a Companhia Energética de Brasília (CEB) registrou resultados acima dos previstos. De acordo com a distribuidora, a redução média foi de 5% na demanda de energia no horário de pico (entre 18h e 21h) e queda de 0,35% no consumo total. ¿Este ano, apesar do alto consumo de energia em função do calor, conseguimos atingir um resultado superior à previsão inicial¿, avaliou o superintendente de Operação do Sistema Elétrico da CEB, Marcelo Meloni.

Segundo a CEB, a redução da demanda no horário de maior consumo correspondeu a aproximadamente 48 megawatts, de um total de 960 megawatts. Isso significa, em Brasília, que a diminuição da demanda corresponde à carga do horário de ponta de cidades como Núcleo Bandeirante e Candangolândia. ¿A redução da demanda aumenta a qualidade e a confiabilidade do fornecimento de energia, o que se reverte em benefício para o consumidor¿, explicou Meloni.

O consumo de energia também apresentou redução de 0,35%, uma economia de 1.558 MWh, o que corresponde a uma redução de aproximadamente 25% em gastos com energia elétrica na cidade-satélite de Brazlândia, ou 1% do consumo residencial do DF em outubro, quando foi implantado o horário de verão. ¿Além de todos esses bons resultados, a redução da demanda e do consumo de energia também é importante para todo o setor elétrico, pois resulta no adiamento de investimentos imediatos para expansão do sistema, que poderiam pressionar o aumento de tarifas em todo o país¿, disse Meloni.

Período

Em 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o Decreto n° 6.558, fixando datas para o início e o término do horário de verão. Ficou acertado que anualmente os ponteiros dos relógios devem ser adiantados no terceiro domingo de outubro e atrasados no terceiro domingo de fevereiro. A mudança só não ocorrerá caso a data de término coincida com o carnaval. O horário de verão foi implementado pela primeira vez no Brasil em outubro de 1931.

O Ministério de Minas e Energia informou que nos últimos 10 anos esse mecanismo permitiu uma redução média de 4,7% na demanda de energia no horário de pico. Isso significa que as usinas deixaram de gerar neste horário cerca de 2 mil megawatts a cada ano ou 65% da demanda do Rio, ou ainda 85% da demanda de Curitiba.

Memória Marcas de apagões

O verão, mesmo com o horário alterado, foi marcado por apagões. Em novembro, 18 estados ficaram horas às escuras, afetando 70 milhões de brasileiros entre a noite do dia 10 e a madrugada de 11. Os estados mais afetados foram Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul. Segundo o Ministério de Minas e Energia, o blecaute ocorreu em razão de um curto-circuito que desligou três linhas de transmissão da usina de Itaipu às 22h13 do dia 10. O governo alegou que o curto foi provocado por raios.

Em fevereiro, às vésperas do carnaval, no dia 10, outro apagão. Dessa vez, afetou todos os estados do Nordeste, que ficaram parcialmente sem energia elétrica a partir das 14 horas (hora local). No Norte, só a Alumar (empresa de alumínio), no Maranhão, foi atingida. Os clientes ficaram de 25 a 35 minutos sem abastecimento. A Assessoria de Imprensa do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) explicou que houve um problema na linha de interligação Norte-Nordeste e, por medida de segurança, o sistema foi automaticamente desligado.

O calor acima do normal também marcou o verão e levou a população a consumir energia em nível recorde. Nunca tantos aparelhos foram ligados ao mesmo tempo para tentar amenizar a sensação de abafamento que tomou conta do país. O pico de consumo foi registrado no dia 4 de fevereiro, uma quinta-feira. A demanda de energia às 14h49 alcançou 70.654 megawatts. (LV)