Título: Pequenas salvam a pátria
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 20/02/2010, Economia, p. 18

Empresas de menor porte foram responsáveis por 74% dos 181.419 empregos criados em janeiro

Paulo de Araújo/CB/D.A Press Indústria da confecção: presença de microempresas garantiu vagas

O melhor janeiro na oferta de empregos, registrado pelo Ministério do Trabalho em 2010, só ocorreu graças às micro e pequenas empresas (MPEs). Elas foram as principais responsáveis pelo recorde no resultado líquido de contratações (diferença entre admissões e demissões), que chegaram a 181.419 postos com carteira assinada. De acordo com levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), as empresas menores criaram 74% do total de vagas e reafirmaram a posição de maiores contratantes do país.

Mais da metade desse desempenho (57,1%) foi impulsionado por empreendimentos que empregam até quatro trabalhadores. O setor de serviços foi o líder em um ranking dos pequenos que mais contrataram ¿ representa 28,8% de todas os empregos nas MPEs. Em segundo lugar, veio a indústria de transformação (22%) e, em terceiro, a da construção civil (16,9%). ¿O setor de serviços foi o campeão na criação de empregos formais. Na indústria de transformação, eu destacaria três subsetores: indústria de calçados, têxtil e de vestuário, com suas confecções, e a indústria de madeira e mobiliário¿, disse a gerente de gestão estratégica do Sebrae, Raissa Rossiter. ¿A construção civil tem se revelado muito forte, devido às políticas habitacionais que estão sendo implementadas no país. Com isso, são geradas demandas tanto para as grandes construtoras como para os pequenos depósitos de material de construção¿, explicou.

O comércio, em função das muitas demissões de trabalhadores temporários, não gerou saldo positivo de contratações, mas, segundo os técnicos do Sebrae, o resultado já era esperado. ¿Isso é sazonal. Ocorre também em outros setores. Normalmente o saldo de empregos fica negativo em dezembro e, em alguns casos, em janeiro. É reflexo das demissões de temporários¿, explicou o analista técnico do Sebrae Emanuel Malta Falcão.

Doméstico

Para Raissa, o desempenho de janeiro consolida as micro e pequenas empresas como as maiores geradoras de emprego formal no Brasil. Mesmo no período de crise, em todos os meses as MPEs criaram mais vagas que os grandes e médios negócios (veja quadro). ¿Como a atuação das pequenas é mais voltada para o mercado doméstico, e como essa crise afetou mais as empresas inseridas no comércio global, as micro e pequenas quase não foram afetadas¿, justificou a gerente de gestão estratégica do Sebrae.

Ao responder por mais de dois terços dos empregos criados em janeiro, as MPEs representam um bom desempenho não só para o mercado de trabalho, mas para os negócios de pequeno porte. Os outros 26% são contratações em empreendimentos médios e grandes ¿ desempenho melhor que este só havia sido obtido pelas maiores em agosto e setembro de 2009, meses em que estes negócios criaram mais de 30% das vagas.

¿O número de empregos gerados em janeiro é efeito positivo da retomada do crescimento do país. Esse comportamento tem impulsionado empresas de todos os portes. O retorno da dinâmica nas grandes empresas, por exemplo, desencadeia demanda de bens e de serviços para as micro e pequenas empresas¿, ressaltou Raissa, ao lembrar que durante 2009, em quase todos os meses, ou eram somente as pequenas que contratavam ou eram elas que geravam quase que 100% das vagas.