Título: Dólar encarece projetos termelétricos
Autor: Goulart, Josette
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2008, Empresas, p. B7

O encarecimento dos instrumentos para proteção cambial, o chamado hedge, fez com que alguns projetos termelétricos e empresas estrangeiras deixassem de participar, na terça-feira, do leilão de energia do governo federal. A EDP Energias do Brasil saiu da parceria que tinha com a MPX Energia para o projeto de Porto de Pecém II, que foi vendido no leilão. Mas também a própria MPX tirou a usina de Porto do Açú das negociações, que ficaram 10% mais caro por causa da elevação do dólar de R$ 1,70, que foi tomado como base para o investimento, para R$ 1,96.

O presidente e diretor de relações com investidores da MPX Energia, Eduardo Karrer, explica que, por causa da crise, o hedge para a usina do Açú ficou 10% mais caro, já que pelo menos 65% do custos de construção e equipamentos está atrelado à moeda estrangeira. "Nossa política é fazer 100% do hedge no dia seguinte ao leilão", diz Karrer. "Por isso decidimos tirar a usina da disputa, até porque podemos levar o projeto para a energia ser vendida no mercado livre."

A usina de Pecém II não teve um aumento de custo significativo para a MPX porque, segundo Karrer, há uma sinergia muito grande com a usina já em construção de Pecém I. Além disso, na semana passada a empresa já tinha um empréstimo ponte aprovado de R$ 305 milhões com o Citibank, com prazo de 15 meses. No total, o projeto da usina de Pecém II, que é movida a carvão mineral importado, vai requerer investimentos de US$ 576 milhões. A receita fixa anual foi fechada em R$ 206 milhões.

Já a empresa portuguesa EDP, parceira da MPX no projeto Pecém, resolveu sair do leilão em função do agravamento da crise financeira na segunda-feira, quando o Congresso americano rejeitou o pacote anti-crise proposto pelo governo. Em teleconferência com os investidores realizada ontem, o presidente da Energias do Brasil, António Pita de Abreu, disse que a piora do cenário dificultou uma boa avaliação de risco e retorno do projeto. Além disso, Abreu afirmou que cerca de 40% dos equipamentos a serem usados nas usinas termelétricas são cotados em dólar, que variou 20% nos últimos dias, um incremento de custo significativo para o projeto. "Mas nossa saída de Pecém II não vai prejudicar em nada a parceria que temos com a MPX em Pecém I", disse Abreu durante a teleconferência.

O presidente da Energias do Brasil falou ainda sobre as usinas de Capixaba e Resende, que não foram ofertadas no leilão. A de Capixaba, segundo Abreu, não tinha o licenciamento ambiental que é obrigatório para que o empreendimento entre na disputa. Já Resende, uma usina movida a gás natural, não tem ainda um contrato de fornecimento fechado com a Petrobras.