Título: "Mundo não acabou com eleição da Câmara", diz Lula
Autor: Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2005, Política, p. A14

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva utilizou ontem o programa de rádio "Café com o Presidente" para dizer que "o mundo não acabou" com a eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara. Lula afirmou que o governo vai trabalhar com Severino - a quem chamou de "companheiro do PP" - assim como fez com o ex-presidente da Casa, deputado João Paulo Cunha, do PT. "Eu estava acompanhando a votação da Câmara e ouvi do noticiário como se o mundo tivesse acabado. Não. O que aconteceu? Aconteceu um movimento que resultou na eleição de um companheiro do PP que é o Severino e eu não vejo nenhum problema", ressaltou Lula, uma semana depois da derrota do governo. O presidente observou que tem de governar o país, independentemente dos eleitos para a Mesa Diretora da Câmara. Pela primeira vez na história, o maior partido da Casa, o PT, ficou sem representação na Mesa. "Independentemente de quem seja o presidente da Câmara, de quem seja o primeiro-secretário, o tesoureiro, tenho de governar o país", destacou. "Os projetos que enviaremos à Câmara serão projetos de interesse do Brasil e não serão projetos de interesse pessoal do presidente da República", disse . Na quinta-feira passada, Lula e Severino tiveram uma reunião no Palácio do Planalto. Já no primeiro encontro, Severino aproveitou para cobrar mudanças na MP 232, editada para corrigir a tabela do Imposto de Renda, mas que incluiu aumentos tributários para os setores de serviços e agronegócios, e conseguiu agendar um encontro para hoje com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para tratar do assunto. No fim de semana, Severino também sinalizou que pode apoiar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 2006. Na edição de ontem do programa de rádio, Lula ainda tratou da violência agrária e afirmou que o governo não vai descansar enquanto não prender os assassinos da missionária Dorothy Stang e dos trabalhadores rurais mortos no Pará. "É abominável que as pessoas ainda achem que um revólver 38 seja a solução para um conflito, por mais grave que ele seja", frisou. "Precisamos prender os mandantes para que a gente mostre, claramente, que no nosso governo não tem impunidade, que a Amazônia é nossa e que nós vamos tomar conta do nosso território com soberania, sem vacilação". Lula observou que as ações do governo na região do Pará têm incomodado "alguns reacionários" da área madeireira que não se conformam com o fato de que precisam de uma concessão para derrubar uma árvore. "Da mesma forma que o Estado dá concessão para explorar o gás, a água, o petróleo, nós temos que ter autoridade para dar concessão às madeireiras", afirmou. "Não vamos arredar o pé. Vamos ser firmes e manter o controle da situação".