Título: País tem superávit apesar do câmbio
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2005, Finanças, p. C1

A apreciação da taxa de câmbio teve, até agora, efeitos restritos sobre as contas externas. O país registrou superávit de US$ 818 milhões em conta corrente em janeiro, segundo dados do Banco Central. O resultado é 20,3% maior do que o observado no mesmo mês de 2004. O desempenho positivo se explica, em boa medida, pelo superávit na balança comercial - que ficou em US$ 2,183 bilhões, ante US$ 1,586 bilhão no mesmo mês de 2004. O déficit em serviços e rendas se expandiu de US$ 1,147 bilhão, para US$ 1,637 bilhão. O saldo em conta corrente é considerado o mais importante indicador das contas externas do país. Quando ocorre superávit, como o observado em janeiro, significa que houve sobra de recursos, que podem ser usados para amortizar dívida externa ou para brasileiros fazerem investimentos no exterior. Também houve superávit, de US$ 1,187 bilhão, nas contas de capital e financeira, o que totaliza saldo positivo de US$ 2,025 bilhões no balanço de pagamentos. No ano passado, o Brasil registrou superávit recorde em conta corrente, de US$ 11,669 bilhões. A expectativa do BC era que, com a recente retomada da demanda interna, as conta corrente pudesse caminhar para o equilíbrio. Em janeiro, porém, o que se viu foi a alta do superávit acumulado em 12 meses, que passou para US$ 11,807 bilhões, ou 1,94% do Produto Interno Bruto. Além da balança comercial (exportações menos importações), as contas correntes incluem os serviços (turismo internacional, fretes, aluguel de equipamentos, serviços de informática etc), as e rendas (pagamentos de juros e dividendos) e as transferências unilaterais (dinheiro remetido ao Brasil por residentes no exterior e vice-versa, sem relação comercial ou financeira). O déficit em serviços se elevou de US$ 71 milhões para US$ 272 milhões, entre janeiro de 2003 e 2004. Pesou nessa leve deterioração a redução do saldo positivo de turismo internacional, que ficou em US$ 44 milhões em janeiro passado, ante US$ 100 milhões no mesmo mês de 2004. Reflexo do real mais forte e do aumento da renda, os gastos de brasileiros no exterior subiram 51%, enquanto turistas estrangeiros deixaram 15,4% mais recursos no Brasil. Outro item dos serviços que pesou foi o déficit com aluguel de equipamentos, que passou de US$ 143 milhões para US$ 256 milhões no período. As saídas líquidas de rendas subiram 26,86%, para US$ 1,365 bilhão. O destaque foi a remessa de lucros e dividendos, que passou de US$ 94 milhões para US$ 372 milhões. Com o maior crescimento econômico, as empresas estrangeiras estão lucrando mais; também decidiram aproveitar o dólar mais barato para antecipar a remessa de lucros referente ao balanço de 2004. As transferências unilaterais registraram um ingresso líquido de US$ 271 milhões, alta de 12,44% em relação a janeiro de 2004.