Título: Acordo com FMI custou US$ 1,275 bi em 2004
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2005, Finanças, p. C3

O acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) custou no ano passado US$ 1,275 bilhão aos cofres do Tesouro, segundo dados da instituição internacional. O total de taxas e juros pagos à instituição em 2004 foi o maior dos últimos 20 anos. Os custos de manter um acordo com o FMI, ainda que preventivo, devem ser considerados na decisão brasileira de deixar os acordos com a instituição ou renovar por mais um ano. O total gasto em 2004 não corresponde apenas ao acordo corrente, mas ao saldo de recursos que foram sacados pelo Brasil desde 2002 principalmente, quando teve que fechar um acordo em meio à turbulência dos mercados no período pré-eleitoral. Em 2004 não houve nenhum saque e o país pagou cerca de US$ 4,4 bilhões em principal dos empréstimos ao organismo. Mesmo assim, teve gastos expressivos com juros e taxas, de 814,9 milhões de SDR, moeda usada pelo FMI para indexação de empréstimos e cotas dos países na instituição, que varia diariamente. O Valor converteu todos os valores das transações para dólares pelas cotações do SDR na data do pagamento ou desembolso de recursos. O custo de renovação de um empréstimo " preventivo " , no qual não são feitos saques, é de 0,5% do total do empréstimo na data da assinatura do acordo e mais 0,35% anuais de acordo com o valor disponível (no caso do Brasil, a alíquota é de 0,35% porque o valor do empréstimo pretendido, em torno de US$ 15 bilhões, supera muito a cota do país no FMI). Normalmente o total do empréstimo não fica disponível imediatamente mas apenas no fim do período do acordo. Apenas para se ter uma idéia dos custos, considerando a incidência sobre o valor total em ambos, as taxas por um empréstimo de US$ 15 bilhões seriam equivalentes a US$ 75 milhões de taxa inicial e até US$ 52,5 milhões ao longo de um ano- um gasto total de cerca de US$ 120 milhões. A diferença entre este valor e o total pago no ano passado pelo Brasil corresponde a juros sobre o total sacado em anos anteriores. Em 2003, o Brasil sacou US$ 17,7 bilhões e devolveu US$ 12,83 bilhões. Os custos totais do acordo com o Fundo foram de US$ 1,09 bilhão, segundo maior valor pago pelo país ao FMI nos últimos 20 anos. Os saques em 2002 tiveram volume parecido, de US$ 16,34 bilhões, mas o valor devolvido ao Fundo foi menor, de US$ 4,57 bilhões, por conta da crise financeira que o país atravessava. Os custos do acordo no ano das eleições foram relativamente baixos, de US$ 468,8 milhões. Em 2001, quando a situação econômica era favorável, o país não fez repagamentos ao Fundo Monetário e sacou cerca de US$ 6,7 bilhões em recursos. O mercado não reagiria mal nem a uma renovação do acordo nem ao encerramento do programa de crédito com o Fundo. Segundo um dos macroeconomistas do Banco Brascan, " seria positivo não renovar o acordo para demonstrar que não há mais a necessidade de suporte financeiro do Fundo " . Mas o banco, um dos " top 5 " segundo o Banco Central na previsão dos índices de inflação em janeiro, acredita que o melhor cenário seja deixar a porta aberta para o fechamento de um acordo sem grande burocracia se houver necessidade. Nas últimas ocasiões em que foi necessário um pacote de emergência para o Brasil, o Fundo agiu relativamente rápido. Os custos de manter um programa sem necessidade são altos, diz o economista. Marcelo Carvalho, do ING Barings, num relatório recente sobre o assunto, afirma que seria positivo para o Brasil " andar sem muletas " e que o país deve evitar tornar-se um " usuário viciado " em pacotes do Fundo. Mas, refletindo a indecisão do governo, o analista diz que o mais difícil é saber a hora exata de abrir mão das muletas. " Jogar as muletas fora antes do tempo pode fazer o corpo sofrer. "