Título: Leilão de rodovias federais deve atrair menos estrangeiros
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2008, Brasil, p. A4

Com a escassez de crédito e taxas de retorno do investimento mais baixas do que nos últimos leilões, a próxima disputa por rodovias federais deverá atrair menos empresas estrangeiras, além de ter menor espaço para grandes deságios. A concessão de 680 quilômetros da BR-116 e da BR-324 - de Salvador até a divisa da Bahia com Minas Gerais, passando por Feira de Santana - será licitada em 1º de dezembro, na Bovespa. O edital, divulgado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), prevê tarifa máxima de pedágio de R$ 2,80. Inicialmente, o órgão planejava iniciar o leilão com tarifa de R$ 3,15, mas diminuiu o valor por orientação do Tribunal de Contas da União (TCU). Ganha quem oferecer o menor pedágio. Daniel Aratangy/Valor Moacyr Duarte, da ABCR: cenário econômico dificulta deságio significativo

Em nota técnica anexada ao edital, o Ministério da Fazenda calculou a taxa interna de retorno (TIR) em 8,5%. Na licitação de sete lotes realizada em outubro do ano passado, que incluía rodovias como Fernão Dias e Régis Bittencourt, a TIR foi projetada em 8,95%. A redução da taxa para as primeiras rodovias a serem administradas pela iniciativa privada no Nordeste contrasta com o aumento das incertezas sobre o futuro da economia, em meio à crise mundial. "O quadro financeiro, brasileiro e mundial, é muito diferente de um ano atrás", diz Moacyr Duarte, presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR). Ele aposta que haverá interesse de várias empresas no leilão, mas o cenário econômico complexo dificulta a obtenção de deságio significativo.

Para o executivo, o governo faz bem em fortalecer o BNDES nesse momento de penúria de crédito internacional. A questão, segundo ele, é a capacidade do banco de dar conta de todos os pedidos de financiamento que virão dos empreendimentos de infra-estrutura. "O grande financiador desses projetos é o BNDES. A questão é tempo e disponibilidade. O banco tem sido demandado por outros setores, que também são prioritários. É até possível que haja dinheiro para financiar todo mundo, mas temos nossas dúvidas", observa.

Para especialistas do setor, trata-se de um momento pouco propício para a entrada de novos investidores estrangeiros no Brasil. Já os grupos europeus com presença no país deverão ter postura mais tímida, pois há pouca disposição dos acionistas em aumentar seus ativos no mundo emergente, com risco maior. "Há uma restrição de crédito que talvez leve (o leilão) a ter menos interessados estrangeiros", prevê José Alexandre Resende, ex-diretor-geral da ANTT. "Para as empresas nacionais, acho que a crise não afeta tanto", acrescenta.

A proximidade de outra licitação aguardada com ansiedade no setor também pode afetar a disputa. Em 29 de outubro, vão a leilão cinco corredores paulistas: Ayrton Senna/Carvalho Pinto, Dom Pedro 1º , Raposo Tavares e a Marechal Rondon Leste e Oeste.

"As grandes companhias devem se concentrar nos lotes maiores de São Paulo. Se elas se comprometerem muito nas rodovias estaduais, perdem o poder de fogo para as estradas da Bahia", completa Resende. Ele lamenta a falta de coordenação para o planejamento dos dois leilões. "Numa situação de perfeito entendimento entre governos estadual e federal, as licitações não seriam feitas em momentos tão próximos", afirma.

Um executivo, que prefere não se identificar, lembra que OHL e CCR, as duas maiores do setor, já estão fortemente comprometidas com investimentos em rodovias que arremataram recentemente. Em março, a CCR ganhou a concessão do trecho oeste do Rodoanel de São Paulo. Haverá desembolso de R$ 2 bilhões em dois anos, como pagamento de outorga. No ano passado, a OHL venceu cinco dos sete trechos licitados pelo governo federal, incluindo as duas rodovias com maior exigência de investimento - a Fernão Dias (São Paulo-Belo Horizonte) e a Régis Bittencourt (São Paulo-Curitiba). Naquele leilão, o deságio chegou a 65%.

Caberá ao futuro concessionário das rodovias baianas realizar investimentos totais de R$ 2 bilhões ao longo de 25 anos de contrato, incluindo a recuperação do pavimento e da sinalização, bem como a duplicação de toda a BR-116 e de parte da BR-324.