Título: Reserva do AM venderá créditos de carbono
Autor: Barros, Bettina
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2008, Brasil, p. A4

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma, no Estado do Amazonas, recebeu esta semana a primeira validação de uma auditora internacional, o que permitirá a comercialização de créditos de carbono gerados com a floresta em pé. O projeto validado pela alemã Tüv Süd recebeu a pontuação máxima na categoria "ouro" do padrão Climate Community and Biodiversity Alliance (CCBA), uma respeitada organização voltada para projetos ambientais em fase de desenvolvimento.

Com a validação, passa a ser possível agora à reserva amazonense quantificar cientificamente o montante de dióxido de carbono (CO2, o principal gás-estufa) que deixa de ser jogado na atmosfera com o desmatamento evitado. "É um precedente importante para o debate pós-Kyoto", diz Virgílio Viana, diretor-geral do Fundo Amazônia Sustentável (FAS), uma organização não-governamental criada em parceria pelo Amazonas e o Bradesco para desenvolver projetos sustentáveis na floresta.

"A validação da metodologia mostra que as questões técnicas podem ser superadas e o carbono florestal poderá ter um papel decisivo para mitigar as mudanças climáticas globais", explica Viana. Pelas regras atuais do Protocolo de Kyoto, as florestas nativas ainda não têm direito ao mercado regulado de carbono devido a dúvidas metodológicas.

A reserva do Juma é o primeiro projeto brasileiro em REED, sigla para redução de emissões por desmatamento e degradação das florestas. São 366 mil hectares de floresta tropical ainda intactas, que podem gerar quase 190 milhões de créditos de carbono até 2050.

Os créditos da reserva já estão vendidos para a rede internacional de hotéis Marriott, que assinou em abril deste ano um contrato de doação de US$ 2 milhões, a serem pagos em quatro anos, para a preservação desse quinhão da Amazônia. Além disso, os hóspedes da rede poderão neutralizar suas emissões de carbono por US$ 1 a mais no valor pago pela estadia.

O programa para a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma é considerado crucial na combate ao desmatamento na região. Isso porque ela está localizada na margem direita do rio Madeira, no município de Novo Aripuanã, uma área com alto risco de desmatamento devido à possível pavimentação da rodovia BR-319, estrada que liga Porto Velho (RO) a Manaus, e da BR-230, a Transamazônica. Segundo o FAS, Juma já viu desaparecer 6 mil hectares de matas.

A reserva foi criada pelo governo amazonense em 2006 com o objetivo de proteger a floresta com alto valor de biodiversidade e propiciar a melhoria da qualidade de vida das atuais 322 famílias de população tradicional que vivem dentro da área.