Título: Indecisos devem definir quem será o adversário de Paes no Rio
Autor: Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2008, Política, p. A6

A poucos dias da eleição, o quadro da corrida para a Prefeitura do Rio é indefinido. Eduardo Paes (PMDB), candidato do governador do Estado, Sérgio Cabral, é o favorito e tem 29% das intenções de voto, segundo as pesquisas mais recentes do Datafolha e do Ibope. O segundo lugar é disputado entre o senador e bispo licenciado da Igreja Universal Marcelo Crivella (PRB) e os deputados federais Fernando Gabeira (PV) e Jandira Feghali (PCdoB). O resultado pode revelar surpresas, pois 30% dos eleitores ainda estão indecisos, conforme pesquisa espontânea do Datafolha feita no início da semana. Urbano Ebiste/CPDOC JB/Folha Imagem Paes, em campanha em Campo Grande: "Tenho trabalhado cerca de 20 horas para passar dos mais ricos aos mais pobres. Só torço para ir ao segundo turno"

Sem debate na televisão nem propaganda eleitoral na reta final, os candidatos correm atrás do voto dos indecisos nas áreas populosas do Rio, as zonas Oeste e Norte. O debate, previsto para ontem na Rede Globo, foi cancelado porque o candidato Paulo Ramos (PDT) não abriu mão de participar.

Ontem, Paes cumpriu agenda estafante entre as zonas Norte e Oeste. "Tenho trabalhado cerca de 20 horas para passar dos mais ricos aos mais pobres", afirmou. Começou às 5h30 em Ramos, passou por dez bairros e terminou em um jantar na Barra. Paes diz não ter um adversário preferido para o segundo turno. "Só torço para ir ao segundo turno."

Gabeira vem ganhando espaço nas duas últimas semanas ao conquistar boa parte dos votos da classe média e vai manter o foco nesse eleitor, mas sem restringir à zona Sul, onde o seu favoritismo é maior. Embora mais identificado com o eleitor mais rico e escolarizado, Gabeira tem chances de vencer o pleito, diz o cientista político do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) Jairo Nicolau. "O fato dele fazer campanha junto aos setores médios e jovem pode levá-lo ao segundo turno. A classe média são os evangélicos do Gabeira", disse Nicolau, em referência a Crivella, que conta com a fidelidade eleitoral de grande parte dos evangélicos. Como a disputa carioca é pulverizada, com 12 candidatos, Gabeira não precisaria ter votação expressiva entre os mais pobres. "Se ele for ao segundo turno, para ganhar, tem que chegar nos mais pobres", ressalta o cientista político.

O bispo licenciado Marcelo Crivella começou na liderança, mas perdeu espaço para Paes, cujo crescimento se deu principalmente nas camadas populares e foi fruto de uma campanha maciça na cidade. Do partido do vice-presidente José Alencar, Crivella contratou o marqueteiro Duda Mendonça e montou grande estrutura de campanha. Depois, foi obrigado a diminuir gastos porque a arrecadação ficou abaixo do esperado. O senador é dono da maior taxa de rejeição, mas tem o segundo maior percentual de intenção de votos entre os eleitores com renda e escolaridade mais baixas, perdendo somente para Paes. Jandira Feghali, cujo desempenho foi melhor no início da campanha, está em quarto lugar e vai concentrar a campanha em áreas das zonas Oeste e Norte onde os demais candidatos não chegam.

A eleição deste ano marca a despedida de Cesar Maia (DEM) do poder municipal, onde está há quase 16 anos. O prefeito está no fim do terceiro mandato, após ser reeleito. Antes, elegeu Luiz Paulo Conde, hoje no PMDB, depois de cumprir o primeiro mandato. Sua candidata, Solange Amaral, não decolou. Além do desgaste natural do cargo, Maia teve como calcanhar de Aquiles a situação precária da saúde. O ápice da crise foi deflagrado com a epidemia da dengue no verão passado, que matou cem pessoas na cidade. Embora a administração Maia tenha sido esquecida pelos candidatos, a saúde foi o tema principal dos programas eleitorais. Paes propôs copiar as unidades de pronto-atendimento (UPAs) implantadas pelo governo Cabral. Jandira, Gabeira e Crivella falaram no fortalecimento da rede de postos de atendimento e na melhoria dos hospitais de emergência.

Outra característica dessa eleição está sendo a ausência de figuras dos maiores partidos nacionais. O PT deu pouco apoio ao seu candidato, o deputado estadual Alessandro Molon, com desempenho fraco nas pesquisas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apenas apareceu em seu programa eleitoral no fim da campanha em gravação padrão aos candidatos petistas no país. Lula tem cinco candidatos da base aliada no Rio, entre eles Paes e Jandira, e preferiu não apostar em Molon.

Já o PSDB tem apenas um vice na eleição na chapa encabeçada por Gabeira, o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha. "O Rio não tem polarização e uma parte da confusão do eleitor vem daí. A oposição se agarrou no Gabeira e o Planalto não apareceu por aqui", disse Nicolau.

Olhando para 2010, uma eventual vitória de Paes beneficiaria Lula, aliado do governador Cabral, isolando a oposição. A vitória de Jandira ou Crivella seria positiva a Lula, mas não tão alinhada com Cabral. Se Gabeira vencer, os tucanos ganham força. "O Gabeira pode ser um dos pontos da rede que o PSDB pode ter no Estado", afirma o cientista político. Ele lembra que Geraldo Alckmin, quando candidato a presidente em 2006, buscou apoio no ex-governador Garotinho (PMDB). "Foi um tiro no pé, mas não tinha outro," afirma.