Título: PT pode ser o grande vitorioso no ES
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2008, Política, p. A6

Além de ter praticamente assegurada a reeleição do prefeito de Vitória, João Coser, o PT pode sair ainda mais robustecido das eleições municipais de domingo no Espírito Santo e cacifado para disputar a sucessão do governador Paulo Hartung (PMDB) em 2010, com o apoio do próprio governador. Tudo isto se forem confirmadas as tendências das pesquisas e os prognósticos de alguns dos principais analistas da política local. Ele dão também como certa a reeleição do prefeito de Cariacica, Helder Salomão, e como muito prováveis as eleições de Leonardo Deptulski e de Carlos Casteglione, respectivamente, em Colatina e em Cachoeiro de Itapemirim.

Confirmados os prognósticos, o PT abocanharia a capital, uma das três grandes cidades da região metropolitana de Vitória, Cariacica, quarto maior colégio eleitoral do Estado e o mais pobre deles, a metrópole do sul do Espírito Santo, Cachoeiro do Itapemirim, e Colatina, uma das metrópoles do Norte. Teria o terceiro, o quarto, o quinto e o sétimo maiores colégios eleitorais capixabas.

Como as eleições municipais do Espírito Santo este ano são, acima da renovação administrativa local, um termômetro para a sucessão de Hartung, a posição petista estaria favorecida dentro do espectro de partidos que apóia o atual governador, que vai da sua própria agremiação, o PMDB, e passa por PT e PSDB, adversários renhidos na política nacional. Reeleito em 2006 com, proporcionalmente, a maior votação do país e mantendo-se como um dos governadores mais bem avaliados da federação, Hartung é tido como imbatível no Espírito Santo.

Na sua gestão, o Estado saiu de uma grave crise política, econômica e institucional para tornar-se a economia que mais cresce na região Sudeste, e uma administração marcada pela austeridade e a recuperação da capacidade de investir do Estado.

Há algum tempo, quando fala da sua sucessão, Hartung lista vários nomes que considera aptos a receber seu apoio. Ela inclui os nomes de Coser (PT), do senador Renato Casagrande (PSB), do deputado federal Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), do vice-governador Ricardo Ferraço (em processo de saída do PSDB), do deputado federal Lelo Coimbra, presidente estadual do PMDB e o da deputada federal Rita Camata (PMDB). Nessa lista, Coser sai ganhando do round de domingo, até porque deve eleger-se tendo como vice um nome escolhido a dedo por Hartung, seu assessor especial, o jornalista Sebastião Barbosa. Em caso de renúncia de Coser para disputar o governo estadual, a prefeitura de Vitória, que tem quase tanta visibilidade quanto o Estado, ficaria sob a influência direta do atual governador. Coser admite que o PT sairá mais forte do dia 5 de outubro, confirmados os prognósticos, e diz que seu partido vai trabalhar por uma chapa mais unida possível em 2010, admitindo que haverá disputa na base hartunguiana. Por enquanto, prefere dizer que fará na prefeitura uma gestão voltada para concluir os projetos traçados no primeiro mandato, com ênfase na periferia.

O deputado Velloso Lucas também não crê em consenso e se mostra disposto a ser o candidato de uma coligação apoiada pelo prefeito. Uma corrente de analistas considera que ele e Casagrande estão mais aptos a unir o Estado sem Hartung. Mas os cientistas políticos João Gualberto Vasconcellos e Fernando Pignaton, dos institutos de pesquisas Futura e Flex Consult, consideram que, pelo menos agora, eles devem sair perdendo, com derrotas em cidades importantes como Vitória, Guarapari e Colatina.

Ferraço, que se incompatibilizou com o PSDB por apoiar candidatos de outros partidos, corre também o risco de perder em locais importantes, como a petrolífera São Mateus. Vive um momento de desgaste. Mas para Pignaton, ninguém ainda perdeu nada. Hartung vai decidir seu apoio mesmo com base no candidato à presidência com mais chances de vencer em 2010, já que ele transita tão bem no PSDB de José Serra (e Vellozo Lucas) como no PT de Dilma Rousseff (e Coser). Por fora, mas não necessariamente do outro lado, corre Sérgio Vidigal, que perdeu em 2006 para Hartung, mas deve ganhar a prefeitura de Serra, maior centro industrial do Estado, com cerca de 90% dos votos e o apoio de todos os partidos da base governista estadual.