Título: Maria do Rosário e Manuela brigam por vaga contra Fogaça
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2008, Política, p. A10

Com o prefeito licenciado José Fogaça (PMDB) liderando com relativa folga as pesquisas de intenção de voto para a Prefeitura de Porto Alegre, as maiores emoções deste domingo ficarão por conta da disputa pelo segundo lugar entre as candidatas do PT, Maria do Rosário, e do PCdoB, Manuela D´Ávila. Conforme os institutos de pesquisa, as duas deputadas federais chegam ao fim da primeira etapa da campanha empatadas tecnicamente e, independente de qual delas for a vencedora, o acirramento dos ânimos nas últimas semanas pode complicar uma composição entre as duas no segundo turno. Diego Vara/Agência RBS/Folha Imagem Fogaça conseguiu apresentar-se como administrador eficiente e responsável, que saneou as contas públicas

O próprio lançamento da candidatura de Manuela já havia revelado a cisão das alianças constituídas pelo PT nas últimas eleições municipais. Em 2004, quando perdeu para Fogaça depois de 16 anos no governo local, o partido concorreu coligado com o PCdoB e, em 2000, também com o PCdoB e com PSB, que neste ano está com os comunistas. Nesta campanha, Manuela deu pistas sobre o motivo da separação quando criticou os espaços limitados concedidos aos aliados dos petistas nas campanhas e nos governos passados.

Por enquanto, ninguém fala em apoiar ninguém no segundo turno, mas a candidata do PT já afirmou que se ela levar a melhor sobre a adversária direta vai dispensar o apoio do PPS, que indicou o deputado estadual Berfran Rosado para vice de Manuela. A rejeição é explicada pelos petistas pelo fato de que o partido abriga ex-integrantes do governo estadual de Antônio Britto (1995-1998), à época no PMDB, desafeto histórico dos petistas porto-alegrenses. Já no interior PT e PPS estão coligados em cerca de 60 municípios.

O PPS também teria dificuldades em unir-se com PT em Porto Alegre e por isso tenderia ficar neutro ou a apoiar Fogaça, que foi eleito pela sigla em 2004 antes de voltar para o PMDB. Já o PCdoB e o PSB, apesar das rusgas do primeiro turno, devem ficar com Rosário, ainda que com graus diferentes de envolvimento, pois fazem parte da base parlamentar de apoio do governo Lula, avalia o professor de pós-graduação em ciência política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), André Marenco.

Caso a segunda colocada seja a candidata do PCdoB, o problema pode ser maior. Líderes do PT entendem que o melhor seria "unir a esquerda", mas não será fácil para o partido justificar para seus militantes ou eleitores mais engajados o apoio a uma chapa composta pelo PPS. Além disso, a relação pessoal entre Rosário e Manuela azedou nos últimos dias e as duas mal se cumprimentam nos debates promovidos pelas emissoras de televisão. "Haverá muitos debates internos e se o PT apoiar Manuela será um apoio reticente", acredita Marenco.

As últimas pesquisas dos institutos Ibope, Datafolha e Methodus dão de 33,8% a 38% para Fogaça, 16% a 20% para Rosário e 17% a 19% para Manuela. Segundo Marenco, o prefeito licenciado aparece com relativa folga porque as adversárias mais próximas ficaram mais focadas na disputa entre elas do que em polarizar com a atual administração. E, fora os três primeiros colocados, o baixo contingente de indecisos, de 3% pelo Ibope e 4% pelo Datafolha (com exceção do Methodus, que indica 9,3%) não sugere que possam ocorrer surpresas em relação ao desempenho de outros candidatos, como Luciana Genro (P-SOL), que focou a campanha no discurso contra a corrupção e disputa o quarto lugar com Onyx Lorenzoni (DEM), entende o professor.

Durante a campanha, pontuada ainda por enxurradas de promessas de melhorias em setores como saúde, segurança, transporte e educação, Fogaça, coligado com o PDT e o PTB, conseguiu desconstituir a imagem de "lentidão" que os adversários tentaram lhe impingir e apresentar-se como administrador eficiente e responsável, que saneou as contas públicas, retomou projeto e obras e manteve experiências positivas do PT como o Orçamento Participativo. Desde o início das pesquisas, em julho, ele subiu entre seis e nove pontos. A disputa deste ano também expôs o desgaste político da governadora Yeda Crusius (PSDB), que não conseguiu ajudar o candidato Nelson Marchezan Júnior. Na última pesquisa do Ibope, 48% dos eleitores da cidade avaliaram o governo estadual como "ruim ou péssimo", contra apenas 20% de "bom e ótimo".