Título: Esquerda do PT pressiona por mais espaço
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 23/02/2005, Política, p. A11

Diante de um novo cenário político na Câmara, a esquerda petista aumentou a pressão sobre o campo majoritário da bancada e reivindica mais espaço nas decisões e uma interlocução incisiva do PT com o Executivo para influenciar a agenda do Congresso. Com o intuito de minimizar o quadro de divisão na bancada, o grupo majoritário foi obrigado a concordar com a elaboração de um documento consensual que servirá de referência para os encaminhamentos do líder, o deputado Paulo Rocha (PA), escolhido ontem à noite por aclamação. No documento, a bancada petista classifica de inadmissível a discussão sobre a autonomia do Banco Central e a reforma trabalhista. "Assumi esses compromissos. Não é oportuno para nós, do PT, o envio da reforma trabalhista e da autonomia do Banco Central. É um debate que traz dificuldades para a bancada", disse o líder, já adiantando que será realizado um grande seminário com a bancada em março para discutir todos os temas polêmicos. O campo majoritário tentaria amenizar os termos do documento, classificando de "inapropriado" o envio de tais projetos ao Congresso. Em relação à reforma sindical, o PT exige um tempo mais prolongado de debates na bancada. Pelo acordo firmado com a esquerda, se o documento fosse encampado como diretriz e compromisso da liderança, a ala mais radical da bancada votaria em Paulo Rocha. Apesar disso, o documento não chegou a ser aprovado. O clima azedou depois que o campo majoritário sinalizou que o documento não seria assimilado como uma decisão de toda a bancada. "Vão repetir o mesmo método equivocado que usaram para escolher o Greenhalgh para a presidência", reclamava o deputado João Alfredo (CE). "Isso é falta de respeito, de palavra. Não vamos votar nada", ameaçava o deputado Chico Alencar (RJ). O líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (SP), tentou controlar os ânimos exaltados e assegurou que se Rocha fosse eleito, a bancada estaria, conseqüentemente, avalizando o documento elaborado por consenso. A esquerda chegou na reunião da bancada com um documento prévio para debate, em que classificava a autonomia do BC e as reformas sindical e trabalhista de "agenda negativa que divide o partido, a bancada, e se confronta com amplos setores da nossa base social". "Entendemos que a pauta do Executivo, neste momento em que enfrentamos uma conjuntura adversa na Câmara, com o evidente fortalecimento dos setores conservadores e fisiológicos, deve ser pactuada conosco e ter caráter democratizante e popular", dizia outro trecho do documento elaborado somente pela esquerda petista. O texto provocou irritação entre membros do campo majoritário. "Vamos agora fazer a agenda do governo? As decisões sobre articulação política são do presidente", disse o deputado Paulo Bernardo (PT-PR). A esquerda partidária pretendia ainda se credenciar a ocupar algumas comissões temáticas, como a de Constituição e Justiça. O provável indicado é o deputado Antonio Carlos Biscaia (RJ). Na reunião de ontem, o PT decidiu que, além da CCJ, vai escolher as seguintes comissões: Tributação e Finanças, Seguridade Social, Educação e Agricultura. A reunião da bancada do PT foi marcada por momentos constrangedores. Pela primeira vez depois da eleição da Câmara, os dois candidatos petistas que disputaram a presidência - Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e Virgílio Guimarães (MG) - compartilharam o mesmo espaço com os colegas. Virgílio foi hostilizado por alguns deputados do campo majoritário e aproximou-se da esquerda. O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha não compareceu. Estava fora de Brasília. Professor Luizinho, que está na berlinda e tem sua atuação de líder questionada pelo Planalto, atrasou-se porque participava de uma reunião com interlocutores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Parte do PT quer que João Paulo assuma a liderança do governo. O clima é tão delicado no PT que o atual líder, Arlindo Chinaglia (SP), avisou que estava proibida qualquer tentativa de lançamento de candidaturas avulsas para disputar as presidências das comissões temáticas. "Não há nenhuma hipótese de que a escolha para a presidência da comissão seja diferente da escolha feita pela bancada. No quesito presidente de comissão, uma vez escolhido um nome pela bancada, não há como alterar", avisou Chinaglia.