Título: Palco blindado para não constranger o PMDB
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 21/02/2010, Política, p. 4

Ameaça peemedebista de não prestigiar o evento do PT mobiliza caciques dos dois partidos

Michel Temer: subida ao palanque petista ao lado de Lula e Dilma, além da primeira-dama Marisa Letícia e do vice-presidente José Alencar

Os peemedebistas ameaçaram, mas cederam. Ontem, no lançamento oficial da campanha da ministra Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República, sentaram-se, lado a lado, ela e o presidente nacional do PMDB e da Câmara, o deputado Michel Temer (SP). Cotado para assumir a vaga de vice de Dilma, Temer havia sinalizado ao Palácio do Planalto que não apareceria no Congresso Nacional do PT. A encenação deixou a cúpula petista eriçada. E, para reverter o quadro, mobilizaram-se as maiores lideranças do PT, inclusive o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O PMDB usou a ameaça de ausência no congresso petista para pressionar o PT a abrir mais espaços para peemedebistas na montagem dos palanques estaduais. Em diversos estados, integrantes dos dois partidos disputam a cabeça de chapa dos governos locais (veja quadro). Para não deixar claro que a ameaçava girava em torno de rusgas estaduais, o PMDB apegou-se ao fato de que, no programa de governo lançado pelos petistas na última sexta-feira, o nome do partido não foi citado especificamente no trecho que tratava das alianças partidárias. Com a deixa, o maior partido da coalizão petista se fez de melindrado.

Longe dos holofotes, fizeram uma visita à Dilma Rousseff no fim da noite de sexta-feira. O encontro deveria servir como demonstração da ¿felicidade¿ do partido em fazer parte da base aliada do governo na campanha pela sucessão. Mas a ausência do PMDB no palanque montado ontem para Dilma deu contornos de crise ao lançamento da pré-campanha da ministra. Ciente do estrago que o boicote peemedebista ao evento poderia causar, os principais fiadores da aliança PT/PMDB entraram em campo para intermediar uma trégua.

O líder peemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e seu correligionário, o deputado Eduardo Cunha (RJ), voaram no fim da tarde de sexta-feira para Brasília. Reuniram-se com Michel Temer e o senador Romero Jucá (RR), líder do governo no Senado. Juntos, os caciques do partido foram ao Planalto. Se encontraram com Dilma. Não ficaram satisfeitos. Temer recebeu um telefonema de Lula. O peso político do apelo do presidente fez o partido rever a questão.

Acerto

Com o acerto da presença da cúpula do PMDB na festa, o PT passou a se preocupar em garantir o sucesso da investida. Afinal, de nada adiantaria levar os companheiros à coroação de Dilma se eles fossem recebidos com vaias. Os líderes do partido entraram em ação. Comunicaram os delegados que, por sua vez, alertaram a militância. Deu certo. Romero Jucá não foi recebido com palmas, mas pelo menos não foi vaiado.

Como o risco de magoar Michel Temer era maior, o PT usou uma estratégia infalível: blindou o presidente peemedebista. Ele subiu ao palanque ao lado de Dilma, do presidente Lula, da primeira-dama Marisa Letícia e do vice-presidente José Alencar. Ao lado da turma mais ilustre do PT, Temer foi recebido com aplausos calorosos e saudações amistosas.

E para garantir que Temer não se arrependeria de ter descumprido a ameaça, tanto o presidente Lula quanto a ministra Dilma foram só afagos ao maior partido da base aliada do PT. ¿O PMDB, pelo seu tamanho, é o partido que certamente vai indicar o candidato a vice na chapa da companheira Dilma Rousseff. Vai ter problema em alguns estados? Vai. Mas a agente também não pode permitir que os interesses de uma região possam atrapalhar os interesses nacionais de um país de 190 milhões de habitantes¿, disse Lula, em seu discurso.

Os afagos surtiram efeito. ¿O conteúdo dos discursos da ministra e do presidente foi muito bom, sólido. E o tratamento dado ao PMDB também¿, avaliou Temer, ao fim do evento.

Presidente vai intervir

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá assumir cada vez mais o papel de protagonista nas negociações para a montagem dos palanques estaduais. Se a intervenção não se der diretamente, será feita à base do peso político acumulado por Lula ao longo dos oito anos de governo. O presidente passou a defender que, mesmo que a ministra e pré-candidata Dilma Rousseff suba em dois palanques em alguns estados, ele só se dará ao trabalho de estar em um.

Na prática, a mensagem de Lula pressiona os partidos aliados a entrarem em um consenso na montagem dos palanques estaduais. Uma coisa é um candidato a governador contar com a presença de Dilma, outra é ter o presidente discursando. ¿O presidente não será candidato, por isso entende que poderá subir no palanque que quiser. Ele tem força política para isso. Pode fazer o que lhe der na telha¿, resumiu o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Em algumas unidades da Federação, a formação de dois palanques com candidaturas de membros de siglas da base aliada do governo no processo de sucessão presidencial é dada como certa. Um dos estados em que dificilmente haverá acordo é a Bahia. Lá, o atual governador, Jaques Wagner (PT), e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), deverão disputar a preferência do eleitorado. ¿Onde houver possibilidade de acordo, vamos trabalhar por isso. Onde não houver, teremos dois palanques. Ela (Dilma) estará nos dois¿, explicou Vaccarezza.

Mas o PMDB não deve facilitar a costura desses acordos. O partido que tem como maior patrimônio o número de membros eleitos nas diferentes esferas do poder não costuma abrir mão de candidaturas em prol dos aliados. ¿Estamos trabalhando para fortalecer a posição do nosso partido¿, alertou um dos líderes peemedebistas.

¿A minha avaliação é de que o presidente Lula vai usar o máximo e chegará no limite para tentar arrumar as costuras locais. Ele vai fazer tudo o que puder, usando a popularidade, para auxiliar na definição dos palanques¿, avaliou um senador petista.

E ontem Lula já deu mostras de que cobrará de ambos os lados empenho nessa tarefa. Em seu discurso no congresso petista, ele disse que o novo presidente do PT, José Eduardo Dutra, e o presidente do PMDB, o deputado Michel Temer (SP), se transformarão em ¿caixeiros-viajantes¿, com a função de ajudar a fechar os palanques da coalizão. A fala foi endossada pela ministra Dilma. ¿Eu não acho desejável para o Brasil que haja um governo de um só partido. Acho importante que essa diversidade seja uma base coesa em cima de um programa. E acho que estamos caminhando para isso¿, afirmou. (DL, FF e DR)

Estados problemáticos

Minas Gerais A corrida pelo Palácio da Liberdade envolve nomes de peso da política mineira, tanto no PT quanto no PMDB. Para enrolar ainda mais o meio de campo, há a possibilidade, ainda que remota, de o vice-presidente da República, José Alencar, do PRB, entrar na briga pelo governo mineiro. No lado petista, dois nomes despontam: o do ministro de Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e o do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel. Pelo PMDB, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, sonha com a candidatura.

Bahia A disputa na base aliada de Dilma Rousseff no estado fica entre o atual governador, Jaques Wagner, do PT, e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, do PMDB. Vieira Lima rompeu a aliança com o PT baiano em julho de 2009. A expectativa de um acordo entre os dois políticos é pequena. O mais provável é que Dilma suba no palanque de ambos os candidatos.

Pará No Pará, a briga fica entre a governadora Ana Júlia Carepa, do PT, e o deputado federal Jader Barbalho, do PMDB. Os fiadores da coalizão PT/PMDB estão trabalhando para que Jader, que é presidente do PMDB local, desista da disputa pelo comando do Executivo estadual e se contente com uma cadeira no Senado. A relação entre Jader e Ana Júlia não é das mais amigáveis e está muito desgastada pela disputa regional.

Mato Grosso do Sul A base aliada se divide entre os nomes do atual governador, André Puccinelli (PMDB), e o ex-chefe do Executivo do estado Zeca do PT. Zeca já governou o estado por duas vezes e conta com o apoio da Executiva local. Chegou a dizer que a candidatura de Puccinelli não era um problema do PT, mas do PMDB.

São Paulo No estado, o PT ainda está em compasso de espera. A indefinição se dá porque o PSDB, partido que protagonizará a oposição nas eleições presidenciais, ainda não anunciou quem sairá candidato à sucessão do atual governador, o tucano José Serra. Lula quer que o deputado federal Ciro Gomes seja o nome da base aliada petista no maior colégio eleitoral do país. Mas Ciro prefere concorrer à Presidência da República. Nesse cenário, em que Ciro não se renderia aos encantos de Lula, despontam os nomes do senador Aloizio Mercadante e o do prefeito de Osasco, Emidio de Souza.