Título: IIF sugere que governos intensifiquem o socorro
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2008, Finanças, p. C6

Os maiores bancos do mundo querem que os governos dos países mais avançados mobilizem um volume maior de recursos públicos para ajudá-los a ficar em pé e esperam que eles coordenem melhor as políticas adotadas contra a crise de confiança que tem gerado instabilidade no sistema financeiro internacional desde o ano passado.

O recado foi transmitido ontem pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF), uma associação que representa as maiores instituições financeiras do mundo, numa carta aberta endereçada às autoridades que estarão em Washington na próxima semana para a reunião anual do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

"Injeções temporárias de recursos do governo tornaram-se uma necessidade para preservar a estabilidade do sistema", disse o diretor-gerente do IIF, Charles Dallara. Ele acha que o apoio do governo reduziria as suspeitas que pairam sobre a saúde financeira de muitos bancos e estimularia fundos de pensão e outros investidores a ajudá-los a recompor suas reservas de capital.

A carta do IIF sugere que seria importante garantir "alguma preferência" a esses investidores, oferecendo ações preferenciais e outras garantias para convencê-los a apostar no setor financeiro num momento em que as incertezas são tão grandes.

Fundos controlados por países asiáticos e produtores de petróleo injetaram bilhões de dólares em bancos americanos e europeus no ano passado, mas agora relutam em apoiar essas instituições de novo.

Bancos americanos e europeus registraram US$ 476 bilhões em prejuízos associados ao declínio do mercado imobiliário americano e outros investimentos descuidados desde 2007. Acrescentaram US$ 354 bilhões às suas reservas de capital desde então. Analistas calculam que as perdas que os bancos ainda precisam reconhecer irão superar US$ 1 trilhão.

O IIF acredita que outros países deveriam adotar iniciativas semelhantes ao plano de socorro ao sistema financeiro proposto pelo Tesouro dos Estados Unidos, que deverá ser votado hoje pela Câmara dos Representantes. O plano permite o uso de até US$ 700 bilhões em recursos públicos para adquirir os ativos problemáticos que intoxicaram as carteiras dos bancos e arrumar seus livros.

Mas outros países não parecem dispostos a seguir esse caminho. A União Européia estuda a adoção de um plano parecido, mas ele gera divisões entre seus integrantes. A França é a favor, mas a Alemanha não. O ministro das Finanças alemão, Peer Steinbrück, disse nesta semana que os bancos da Alemanha não precisam desse tipo de ajuda e que os contribuintes alemães não têm nada a ver com os problemas criados pelos americanos.

A Irlanda ofereceu na terça-feira o equivalente a US$ 560 bilhões em garantias para proteger os bancos irlandeses contra o risco de uma onda inesperada de saques. Os vizinhos não gostaram. Outros países europeus temem que o aumento da proteção aos bancos na Irlanda atraia clientes que hoje sentem-se confortáveis deixando seu dinhei- ro guardado em outro lugar.

A carta do IIF também defende a criação de um novo organismo multilateral para rever as normas que regulam o sistema financeiro e sua supervisão. Os banqueiros também pedem reformas no FMI, que só pode emprestar seus recursos para países com dificuldades para pagar seus compromissos internacionais e tem assistido à distância a crise que há meses chacoalha os mercados.

"O FMI está desaparelhado para lidar com uma crise como a atual", disse Dallara. Ele defendeu de maneira genérica mudanças nas linhas de crédito oferecidas pela instituição e sugeriu que, se reformas tivessem sido feitas antes, o Fundo poderia colaborar agora com os esforços que os bancos centrais de vários países têm feito para injetar liquidez nos mercados. "Precisamos ser imaginativos num momento como o atual", afirmou.