Título: Marta vai apreensiva ao segundo turno
Autor: Agostine, Cristiane; Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2008, Política, p. A7

O resultado da apuração das urnas deixou a campanha de Marta Suplicy, candidata à Prefeitura de São Paulo, em clima de apreensão. O PT começa o segundo turno em desvantagem contra o prefeito e candidato à reeleição, Gilberto Kassab (DEM) e até o fechamento desta edição, com 94,55% das urnas apuradas, Kassab aparecia na frente da ex-prefeita, com 33,77% e Marta, 32,53%. A campanha petista partirá para um ataque direto ao prefeito, irá federalizar ainda mais o discurso contra o DEM, buscará o apoio de Geraldo Alckmin, candidato do PSDB derrotado e adotará o lema: "A esperança vai vencer de novo", em referência ao lema da campanha de 2002 do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando a "esperança" venceria o "medo". Marisa Cauduro/Valor A candidata a prefeitura de São Paulo pelo PT, Marta Suplicy , vota no Colegio Madre Alix

Marta passou o dia recolhida em sua casa. Por volta das 10h, votou no Jardim Europa, acompanhada por seus três filhos, mas sem seu marido, Luis Favre. A petista falou rapidamente com o vice, Aldo Rebelo (PCdoB) e com o senador Eduardo Suplicy, que a acompanharam, e voltou para sua casa. A tensão foi reforçada ao longo do dia. Ela se pronunciou só depois da apuração de 80% das urnas, e atrasou quase 2h30 o início de uma entrevista coletiva. O resultado surpreendeu o PT, que nas pesquisas aparecia à frente. Vestida de vermelho, sorrindo, Marta fez questão de mostrar que estava animada e reiterou que governou, entre 2001 e 2004, no final do governo FHC, em um momento difícil da economia. Hoje, com a economia crescendo, ela criticou o prefeito por ter construído pouco.

A estratégia da campanha petista deverá explorar o fato de Kassab ter tido um cargo estratégico, de secretário de Planejamento, na gestão do ex-prefeito Celso Pitta e partirá para o ataque. Ontem, Marta deu indicações do tom do discurso que usará: ela disse ter recebido uma prefeitura que estava como "terra arrasada", prejudicada como "se uma nuvem de gafanhotos" tivesse passado.

Marta disse estar pronta para "comparar gestões, biografias e trajetórias políticas". "Fizemos uma campanha muito limpa, clara, transparente, com propostas que foram tão boas que os outros até copiaram. Agora temos que comparar gestões, ver o que se faz na adversidade, o que se faz na bonança. O administrador aparece quando com muitas dificuldades ele faz coisas boas. Nós podemos fazer muitas coisas boas nessa cidade com dez milhões a mais."

Os petistas cobrarão uma participação ainda maior do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que no primeiro turno já esteve em dois comícios na cidade. O PT quer a federalização da campanha capitaneada por Lula, com críticas ao DEM e associação do partido de Kassab aos problemas da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando o DEM apoiava o PSDB. "Se dependesse de mim, ele viria o mais cedo possível", comentou Rebelo.

Marta também fez um aceno à classe média, ao propor a reduzir a carga tributária e melhorar o transporte na cidade. "(Tenho) muitas propostas de desoneração. Agora é diminuir carga tributária, ISS para todos os profissionais liberais."

A concentração de votos da petista está na periferia, área em que Kassab também investiu, ao dar continuidade aos Centros Educacionais Unificados (CEUs), uma das principais bandeiras da ex-prefeita. Marta tem forte rejeição da classe média e alta e durante a campanha ela perdeu votos nesse segmento. Nessa faixa estão os votos de Alckmin, que tendem a migrar para o prefeito.

É limitada também a perspectiva de aumentar o número de partidos aliados. Com a derrota de Geraldo Alckmin (PSDB), o governador José Serra e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso articulam a entrada imediata do partido na campanha de Kassab. Soninha, do PPS, deve apoiar Kassab. Paulo Maluf, do PP, também não deverá apoiar a petista. Entre os dirigentes petistas, não há expectativa de um grande aumento do apoio da população mais carente, já que no primeiro turno os movimentos sociais, as centrais sindicais e os partidos do bloco de esquerda já estavam na campanha. A ex-prefeita tem uma rejeição maior que a do prefeito.

A campanha de Marta disse apostar que atrairá parte dos votos que foram para o PSDB no primeiro turno. "O eleitor não obedece a acordos dos partidos. Acredito que parte do PSDB não vai aceitar apoiar Kassab", disse Aldo Rebelo. Na campanha, Marta manteve a cordialidade com Alckmin. Ontem, saiu em defesa do tucano: "Eu elogio a postura, a elegância e a ética do governador Geraldo Alckmin. Ele conseguiu ter uma dignidade que eu respeito, na adversidade que ele viveu. Agora a posição dele é ele quem vai decidir."