Título: Pemedebista frustra Aécio e Pimentel em BH
Autor: Jorge, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2008, Política, p. A9

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), não conseguiram alcançar a vitória consagradora que esperavam para o primeiro turno da eleição na capital mineira - o que seria estratégico para as suas respectivas pretensões políticas. O candidato Márcio Lacerda (PSB), que encabeça a ampla aliança partidária construída pelo governador e pelo prefeito, obteve 43,59% dos votos válidos e terá que disputar a sucessão com o deputado federal Leonardo Quintão (PMDB), que ficou com 41,26%. Maria Tereza Correia/Estado de Minas/Folha Imagem Lacerda, entre o atual prefeito, Fernando Pimentel (esq.), e o governador Aécio Neves

Com esse resultado, os coordenadores do comando político das campanhas de Lacerda e de Quintão partem, agora, para assegurar o apoio dos candidatos de legendas da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Jô Moraes (PCdoB) e Sergio Miranda (PDT) - e dissidentes do PT que se opuseram à aproximação entre tucanos e petistas na disputa de Belo Horizonte.

"Nosso trabalho é unificar o campo democrático e popular, porque do lado de lá há uma proposta populista e retrógrada", disse Pimentel antes do resultado final, após acompanhar a votação do governador Aécio Neves. "Estão confundindo "populista" com "popular". Sou uma pessoa que gosta do contato com o eleitor e vamos conversar com todos os candidatos", dissera Quintão momentos antes, ao acompanhar o voto do vice-presidente José Alencar (PRB).

Aécio Neves buscou amenizar o fato de seu candidato não ter vencido as eleições no primeiro turno. "Não houve surpresas, porque é da tradição de Belo Horizonte, que só não teve segundo turno quando Pimentel disputou a eleição [em 2004]. Nos últimos vinte anos houve segundo turno e obviamente você trabalha com essa alternativa", afirmou o governador.

A diretriz da campanha de Lacerda agora vai ser alterada, enfatizando o embate político e programático mais direto com o adversário pemedebista. "Vamos trabalhar para politizar um pouco mais a campanha, mostrando de forma clara que existe projetos distintos em discussão", afirmou o governador mineiro. "A nossa proposta é uma proposta do campo popular e democrático e um projeto de aliança política que o Brasil observa com atenção", acrescentou.

Segundo turno com Quintão frustra petistas e tucanos Para a deputada federal Jô Moraes, entretanto, essa distinção programática entre os projetos representados por Lacerda e Quintão não é tão nítida. "Quero compreender porque nesse momento a ameaça [de retrocesso] de uma candidatura do PMDB é maior do que a de uma candidatura integrada pelo PSDB, que é parte da oposição ao presidente Lula", afirmou a candidata, acompanhada de José Alencar, cujo partido, o PRB, se coligou ao PCdoB em Belo Horizonte.

Em terceiro lugar, com 8,82% dos votos válidos, o apoio da dobradinha PCdoB/PRB, que contou com a adesão de dissidentes petistas, é estratégica no segundo turno. Mas Jô Moraes e o vice-presidente não quiseram antecipar a posição a ser tomada no quadro sucessório da capital mineira. "Há um tempo para cada coisa. Agora é o tempo da votação, depois será o da apuração e depois será o tempo da decisão", afirmou o vice-presidente da República antes de votar.

De acordo com Jô Moraes, o posicionamento que tomará no segundo turno seguirá orientação nacional de seu partido, que tem reunião para tratar do assunto na próxima quinta-feira. Depois do encontro, a posição dos comunistas será discutida com o PRB e dissidentes do PT. "Por eliminação, até agora, seriam duas opções: a de neutralidade ou de apoio a Quintão. Mas a política não se dá por eliminação", afirmou Jô Moraes.

O ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, que discordou da aproximação entre petistas e tucanos em Belo Horizonte, não havia definido se apoiaria Lacerda. "Dentro de um quadro novo, vamos refletir de forma coletiva e compartilhada", afirmou o ministro no início da manhã de ontem, também antes de votar.

Já o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), quer assegurar a neutralidade de Lula na disputa. "A direção nacional do PMDB vai conversar ainda esta semana com o presidente sobre a imparcialidade que ele deve continuar mantendo, em benefício do apoio parlamentar que ele tem", disse Costa.

O ex-deputado federal Sérgio Miranda (PDT), que obteve a quarta colocação (3,4%), também não definiu a posição a ser adotada. Para Lacerda, a virada na sua campanha, que despontava como a grande vitoriosa já no primeiro turno, ocorreu há 15 dias da votação de domingo. "Perdemos intenções de voto no pessoal de nível superior, coincidindo com o aumento do meu índice de rejeição, devido à campanha difamatória na internet e por meio de panfletagem anônima", disse Lacerda.