Título: Lula apresentará medidas ao Congresso
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini; Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2008, Finanças, p. C1

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que vai apresentar ao Congresso Nacional "medidas" para evitar um aperto no crédito no Brasil diante do forte enxugamento no mercado internacional por causa da crise de hipotecas americanas. Segundo ele, o cronograma de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não será alterado em função das turbulências externas. Lula falou à imprensa por volta das 9h30 de ontem, na Escola João Firmino Corrêa de Araújo, em São Bernardo, logo após ter votado nas eleições municipais.

"Nós queremos que eles (os parlamentares) tomem conhecimento de algumas medidas que nós vamos tomar em função da própria crise americana", fez questão de revelar Lula, que vem recusando a palavra pacote. De acordo com ele, apenas "uma pequena onda da crise americana, ou seja, que não causa nenhum dano" atingiu o Brasil, "por que é uma questão de crédito, e isso nós podemos resolver com o dinheiro que temos". A preocupação central do Executivo é com a falta de crédito à exportação e para investimentos.

Segundo o presidente da República, esse tema terá de ser levado para o Congresso "para as pessoas perceberem que, embora o Brasil não corra nenhum risco, nós não podemos vacilar, porque a crise americana já consumiu US$ 850 bilhões do povo americano para tapar os buracos dos banqueiros que faziam agiotagem".

De acordo com Lula, "não haverá nenhuma mudança nas obras do PAC", quer sejam na área de infra-estrutura, da Petrobras, de ferrovias, refinarias, habitação, urbanização de favelas e de saneamento básico. "Só para você ter uma idéia, até o trem-bala vai ser licitado no mês de março para mostrar que nós sabemos lidar com a crise, que nós nos precavemos", afirmou Lula. De acordo com o presidente, "nós fizemos a lição de casa quando era preciso fazer e agora temos reservas para enfrentar essas e outras". As reservas internacionais brasileiras são de mais de US$ 200 bilhões. Com relação à queda forte na bolsa nas últimas semanas, ele disse "paciência, a bolsa sobe e desce o tempo todo".

No sábado, em carreata em São Bernardo, o presidente Lula chegou a afirmar também que empresas como a Aracruz e a Sadia estavam "especulando de forma pouco recomendável" e obtiveram prejuízos por "ganância, por conta própria". Disse ainda que iria ligar para o presidente americano George Bush para prestar solidariedade e lhe dar os parabéns pela aprovação do pacote de socorro aos bancos de US$ 850 bilhões.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também ao votar, ontem, afirmou esperar que o governo esteja preparado para enfrentar a crise. "O presidente Lula falou bravatas de novo, que ele teve coragem de fazer o que os outros não fizeram. Ele se esquece que, em agosto de 2002, por causa da eleição dele, a crise econômica foi muito forte aqui. Eu tive que ter a coragem de chamar o FMI e fazer com que Lula, a contragosto, dissesse que precisava do recurso. Foi o que o salvou em 2003".

Fernando Henrique ressalvou que Lula, apesar das "bravatas", em geral, "aprende rápido as coisas e está percebendo que não dá para pensar que estamos em uma ilha de prosperidade ou num mar encapelado não. As ondas vão chegar aqui, ou já estão chegando. É preciso que o governo comece a ter uma atitude. Comece a entender que não dá para fazer aumento de salário sem parar o aumento de gastos para que o próximo presidente pague".