Título: Europa promete proteção aos bancos
Autor: Gauthier-Villars, David
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2008, Finanças, p. C6

Em uma reunião de cúpula realizada no fim de semana, chefes de Estado europeus se comprometeram a proteger os bancos do continente contra a crise financeira global. Sua decisão já está sendo testada, agora que dois bancos precisam de novos pacotes de resgate.

Em reunião de emergência realizada em Paris, os governantes da França, Alemanha, Reino Unido e Itália disseram que, ao contrário dos Estados Unidos, onde se permitiu que o Lehman Brothers fechasse as portas, os governos europeus se comprometem a intervir para impedir a quebra de bancos.

"Estamos assumindo o sério compromisso de dar respaldo às instituições bancárias e financeiras", declarou o presidente francês Nicolas Sarkozy. Ontem, os governos da Bélgica e de Luxemburgo, trabalhando em ritmo acelerado, tentavam salvar suas respectivas participações no Fortis SA.

Na Alemanha, o governo elaborou um segundo plano de resgate para o banco hipotecário Hypo Real Estate, que lutava para sobreviver depois que fontes privadas de capital desistiram do plano de ajuda anterior, no valor de US$ 48 bilhões.

Esses esforços, feitos em separado, mostram como é difícil concretizar uma ação unificada - apesar das tentativas de resposta européia coordenada ao aperto do crédito.

Na semana passada, a Irlanda foi criticada por vários governos da União Européia quando decidiu unilateralmente garantir todos os depósitos nos seis maiores bancos do país. Autoridades da UE disseram que os bancos irlandeses que se beneficiarem dessa garantia prejudicarão todo o setor, pois passariam a receber grandes quantidades de ativos líquidos, retirados dos concorrentes, mas até agora, propostas de elaborar regras unificadas para vencer a crise, tais como um fundo de resgate bancário, foram abandonadas pelo temor de se mostrarem impossíveis de administrar.

Em vez de decisões concretas, os quatro líderes europeus apenas divulgaram uma lista de princípios. Entre eles: embora concordem que cada país será responsável pelo combate aos problemas do seu próprio sistema bancário - inclusive criando possíveis sanções para executivos de bancos que quebrem - todos prometeram que manteriam os demais informados sobre as decisões.

Também que vão estudar, conjuntamente, maneiras de corrigir certos parâmetros contábeis, tais como as regras de marcação a mercado, que já empurraram vários bancos para a queda descontrolada.

Os líderes também decidiram pressionar por um relaxamento de certas regras européias relativas ao capital, como as que proíbem a ajuda estatal e o monopólio. Falando separadamente, os quatro chefes de Estado também declararam que as regras da UE relativas aos orçamentos nacionais poderiam ser relaxadas temporariamente, para ajudar os países a enfrentar a crise financeira que vai se alastrando.

Segundo as normas européias, os países que usam o euro devem manter seu déficit orçamentário abaixo de 3% e a dívida pública abaixo de 60% do PIB. Qualquer tentativa de atenuar essas regras criaria um problema para o Banco Central Europeu, que está se esforçando para controlar a inflação, mantendo a taxas de juros relativamente alta.

Mesmo assim, um assessor de Sarkozy observou: "É impossível alguém dizer que vai dar apoio a todos bancos, e ao mesmo tempo aderir às regras orçamentárias estritas. Isso não teria nenhuma credibilidade."

Enquanto os governos correm para ajudar seus bancos, a economia européia continua em declínio. O setor imobiliário na Espanha e na Grã-Bretanha está ruindo; a Alemanha, considerada máquina de exportação industrial, vai perdendo o impulso. O desemprego na França aumenta rapidamente. No sábado, os líderes manifestaram aprovação à recente decisão do Banco Europeu de Investimentos de mobilizar ? 30 bilhões (US$ 41,3 bilhões) para apoiar as pequenas empresas.

A medida e outras propostas anunciadas no sábado serão discutidas pelos 27 líderes da UE em reunião de cúpula prevista para meados de outubro. Essa pode ser a base de uma reunião internacional que Sarkozy gostaria de organizar depois das eleições americanas. (Colaborou Alistair MacDonald, de Londres)