Título: Susep quer mais rigor nos investimentos de seguradoras
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Fonte: Valor Econômico, 06/10/2008, Finanças, p. C10

A Superintendência de Seguros Privados (Susep) quer mais rigor nos investimentos das seguradoras. Em 2009, as companhias terão que criar comitês de risco e de investimento, uma forma de trazer maior disciplina e controle nas aplicações das companhias. As seguradoras têm aplicações no mercado de mais R$ 160 bilhões.

Segundo Armando Vergilio, presidente da Superintendência de Seguros Privados (Susep), a idéia é que as companhias adotem práticas diferenciadas de governança corporativa e maior controle dos diversos tipos de risco. A idéia é que, no princípio, apenas as companhias médias e grandes criem estes comitês. As companhias de menor porte entrariam no projeto em um segundo momento. As seguradoras são uma das maiores investidores institucionais do país, junto com fundos de pensão. Para 2008, as provisões das seguradoras devem bater em R$ 191 bilhões, segundo projeções da Fenaseg (a federação das seguradoras).

Para Vergilio, o fato de haver uma série de limitações nos investimentos dos recursos das seguradoras, blindou as companhias brasileiras dos impactos da crise financeira mundial. A crise levou a maior seguradora do mundo, a AIG, a ser estatizada após um empréstimo de US$ 85 bilhões pelo governo americano.

As companhias brasileiras não podem aplicar os recursos no exterior nem comprar papéis estrangeiros. As reservas das seguradoras são vinculadas à Susep e as alterações nas aplicações precisam ser autorizadas. Mais de 90% dos recursos estão aplicados em títulos públicos do governo federal. O restante está em ações e títulos privados. Vergilio estuda limitar ainda mais as aplicações e proibir investimentos em papéis de crédito privado.

No Conec, o congresso dos corretores de seguro que foi realizado este final de semana em São Paulo com mais de 6 mil profissionais, Vergilio procurou tranqüilizar o mercados dos impactos da crise financeira nas seguradoras brasileiras. Em palestra na abertura do evento, ele ressaltou que não há no momento nenhuma seguradora com problemas no país.

Sobre a nova lei de solvência, que entrou em vigor este ano e que exige mais capital de acordo com o risco que a seguradora assume, Vergilio disse ao Valor que a maioria das companhias está enquadrada. Como já era previsto pelos especialistas, a nova lei está forçando algumas seguradoras independentes a buscar sócios ou serem vendidas, como aconteceu com a Indiana (vendida para a Liberty no final do ano passado), Minas Brasil (para a Zurich) e a Mongeral (que se associou à seguradora holandesa Aegon na semana passada).

No mercado comenta-se que outras companhias de menor porte estão em processo de negociação e novos negócios devem ocorrer. Além das regras de solvência, a expansão do mercado de seguros vem exigindo novos investimentos das empresas. Este ano, o setor deve crescer 18%, mais de três vezes a expansão do Produto Interno Bruto (PIB).

José Rudge, presidente da Unibanco AIG, argumenta que as mudanças climáticas vão ser um fator adicional a exigir capital das seguradoras, para lidar com mais catástrofes e sinistros ligados ao clima em todo mundo. Só as fortes chuvas de granizo que caíram em Minas Gerais há três semanas, devem gerar prejuízos da ordem de R$ 120 milhões, estima o executivo. Apenas no pátio da Fiat, foram cerca de 5 mil carros danificados. Para 2040, as perdas ligadas ao clima devem somar US$ 1 trilhão pelo mundo, muito acima do recorde de US$ 120 bilhões de 2005, ano do furação Katrina. (ASJ)