Título: Alijada dos mercados, Argentina espera sofrer impacto menor da crise
Autor: Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2008, Internacional, p. A17

A crise financeira pode ter um impacto menor sobre a Argentina já que o país, desde a moratória de 2002, não está tão vinculado aos mercados internacionais de crédito. "Não tínhamos tanta provisão de financiamento de origem internacional", disse Alfredo Chiaradia, secretário de Comércio e Relações Econômicas Internacionais da Chancelaria argentina. Ele afirmou que o país vem dando ênfase ao financiamento para o setor produtivo, sobretudo às exportações, via bancos oficiais. Esses mecanismos poderão ser ampliados se as circunstâncias o exigirem, previu.

"Os estímulos [ao setor produtivo argentino] estão presentes e são legítimos, mas nunca na magnitude dos que existem no Brasil", disse Chiaradia ao Valor ontem, no intervalo da reunião preparatória da Cúpula América Latina e Caribe, que se realizará em dezembro em Salvador (BA). Chiaradia disse que a estrutura para aumentar o financiamento ao setor empresarial considera o uso de recursos internos, o que inclui o Banco de la Nación e o Banco de Inversiones y Comércio Exterior (Bice).

"O Banco de la Nación disponibilizou linha de US$ 200 milhões para financiar a exportação, sobretudo de bens de alto valor agregado como máquinas e equipamentos", disse. Perguntado se a economia argentina crescerá menos em 2009 como resultado da crise, ele respondeu: "A lógica diz que, se há menos comércio e menos financiamento, pode haver menor atividade econômica. Mas desafiamos tantas vezes a lógica convencional que não me atreveria a dizer isso."

Chiaradia também reconheceu que a recente "forte" desvalorização do real frente ao dólar vai tornar mais competitivas as exportações brasileiras. Mas não se mostrou preocupado com a possibilidade de que o déficit comercial com o Brasil aumente. De janeiro a setembro, a Argentina acumulou déficit de cerca de US$ 3,9 bilhões no comércio com o Brasil.

Chiaradia ressaltou que há esforço conjunto para reduzir o desequilíbrio comercial. "Mas não há ações drásticas." Ele lembrou que, há alguns anos, foi aprovado um instrumento para ser aplicado no caso de que um setor ou indústria na Argentina registre forte crescimento das importações de produtos brasileiros. O chamado de mecanismo de adaptação competitiva, permite estabelecer limites ou acordos voluntários para restringir exportações do Brasil.

Na opinião de Chiaradia, a atual crise deverá ter impactos não só pelo lado financeiro mas também na economia real nos países da região. "Não está claro, porém, em que magnitude, com qual duração e em que lugares a crise será sentida. Sabe-se que haverá impactos, mas não há absoluta precisão", disse. O que se pode fazer, segundo ele, é recomendar que os países latino-americanos e caribenhos tenham algum exercício de avaliação conjunta da crise. O tema estará em pauta na cúpula dos presidentes da América Latina e Caribe.

Sobre as medidas estudadas pelo Ministério da Economia para agilizar a análise de processos antidumping para países asiáticos, conforme noticiou o Valor semana passada, Chiaradia disse que o objetivo é tornar mais rápido o processo de investigação.