Título: Maioria dos eleitos terá maioria nas Câmaras
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Fonte: Valor Econômico, 07/10/2008, Especial, p. A20

A maioria dos prefeitos eleitos no primeiro turno conseguiu garantir mais da metade das cadeiras na Câmara com eleitos por sua coligação. Apenas quatro dos 15 eleitos terão que buscar mais apoio durante o mandato para garantir governabilidade. Entre os que disputam o segundo turno, porém, as maiorias ainda não estão consolidadas. Somente dois candidatos, Márcio Lacerda (PSB), de Belo Horizonte (MG), e Wilson Santos (PSDB), de Cuiabá (MT), obtiveram maioria da Câmara se considerados os partidos de suas coligações.

Em São Paulo, a guinada da candidatura de Gilberto Kassab foi acompanhada pelo aumento do número de vereadores eleitos do DEM na Câmara paulistana, de dois no mandato passado para sete este ano. A bancada do partido, porém, já contava com mais quatro vereadores que ingressaram no partido durante a gestão Serra-Kassab. Mesmo assim, a coligação de Kassab (DEM, PR, PMDB, PRP, PV, PSC) não obteve maioria na Câmara, elegendo 18 vereadores.

Os partidos que apóiam a candidata petista Marta Suplicy (PT, PCdoB, PDT, PTN, PRB, PSB), por sua vez, garantiram 17 cadeiras. Quem quer que se eleja, terá que buscar mais apoio. Kassab, porém, tem a possibilidade de contar com o PSDB, partido que mais elegeu representantes no legislativo - mantendo em 13 o número de cadeiras -, e elevar a sua bancada para 31 vereadores.

O PT perdeu duas vagas na Câmara paulistana, ficando com 11 cadeiras. O PMDB também perdeu, caindo de quatro para dois vereadores. O PCdoB aumentou sua participação de um para dois vereadores com a eleição do cantor e apresentador de TV Netinho de Paula, que obteve 84,4 mil votos, terceira maior votação. O mais votado em São Paulo foi o ex-secretário da Educação Gabriel Chalita (PSDB), com 102 mil votos.

O PT também perdeu posição na Câmara Municipal de Belo Horizonte, mas manteve a maior bancada. A legenda contava com nove vereadores e conseguiu eleger seis. No município, o partido que mais cresceu foi o PMDB, que tinha apenas um vereador e elegeu quatro, tornando-se a segunda maior bancada. O candidato mais votado foi o Professor Elias Murad (PSDB), com 15.473 votos.

Porto Alegre foi outra cidade onde o PT teve reduzido seu número de vereadores. Mesmo assim, elegeu a maior bancada, com sete representantes. Já o PMDB, que será seu concorrente no 2º turno, cresceu de quatro para seis cadeiras.

Considerando as coligações originais, se o vencedor for o prefeito José Fogaça (PMDB), ele poderá contar com o PDT, que indicou seu candidato a vice, José Fortunati, e o PTB, formando uma bancada governista de 16 votos pelo menos, o equivalente a 44,4% das 36 cadeiras da Câmara. Já se a eleita for a candidata do PT, Maria do Rosário, ela poderá contar com o PRB formando uma bancada de oito vereadores.

Além das coligações do primeiro turno, o PMDB teria, pela lógica, mais facilidade de ganhar o apoio parlamentar do PP, do PPS e do PSDB, o que lhe garantiria uma maioria folgada de 25 dos 36 vereadores da cidade. Já o PT tenderia a receber o apoio adicional do PSB, formando uma bancada de nove vereadores. O P-SOL não deve se alinhar com ninguém .

Dono da terceira maior bancada de Porto Alegre, com cinco integrantes (mesmo número obtido pelo PDT), o PTB teve o vereador mais votado neste ano: Maurício Dziedricki, advogado, foi reeleito com 15.454 votos. O segundo mais votado foi do P-SOL: o também advogado Pedro Ruas,que obteve 13.569 votos.

O P-SOL conseguiu ter a vereadora mais votada em Maceió, a ex-senadora Heloísa Helena. Os 29 mil votos de Heloísa garantiram a entrada de mais um representante do partido, Ricardo Barbosa, com 453 eleitores.

No Rio praticamente a metade da bancada de vereadores foi renovada. Das 51 vagas, 23 foram preenchidas por novatos. Os problemas, porém, continuaram. Entre os eleitos agora estão Carmen Gloria Guimarães, a Carminha Jerominho (PTdoB), atualmente presa em Catanduva (SP) por envolvimento com milícias. Eleita com 22 mil votos, ela é filha do vereador Jerônimo Guimarães, o Jerominho, também preso.

Na semana passada, a pedido do Ministério Público, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio anulou a filiação ao PTdoB de Carminha. Como foi eleita com registro partidário cassado, o MP terá que pedir ao TRE para que ela não seja diplomada. Há novatos suspeitos de ligações com as milícias, como os deputados Cristiano Girão (PTC) e Elton Babu (PT). A Câmara do Rio também terá dois eleitos sob suspeita de envolvimento com o tráfico, Claudinho da Academia (PSDC), da Rocinha e Jorginho da SOS (DEM), de Jacarepaguá.

Entre os reeleitos, estão Cristiane Brasil (PTB), filha do ex-deputado Roberto Jefferson, cassado no mensalão. Os campeões foram as vereadoras Lúcia Helena Pinto (PSDB), com 68 mil votos, e Rosa Fernandes (DEM), com 64 mil votos. Clarissa Garotinho, filha do casal Garotinho foi a quinta mais votada, pelo PMDB.

Os candidatos que vão ao segundo turno, Fernando Gabeira e Eduardo Paes, não devem ter problemas com a Câmara, pois suas coligações fizeram boas bancadas. "Os vereadores estão doidos para fecharem com o prefeito para ter verba, cargos. Mesmo o prefeito Cesar Maia, que não é hábil, teve relação pacífica", disse o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

A Câmara de Florianópolis teve uma renovação parcial. De 16 vereadores eleitos, dez são nomes novos e seis foram reeleitos. A maior parte dos eleitos pertence à coligação de Dário Berger (PMDB), que tenta a reeleição e foi para o 2º turno contra Esperidião Amin (PP).

O PMDB elegeu a maior bancada na capital catarinense, com quatro vereadores. Além destes, somam-se ao apoio a Berger dois vereadores do PSB e um vereador do PR, partidos que compuseram sua base aliada ainda no primeiro turno, totalizando sete vereadores. A coligação de Amin, constituída por PP e PV, elegeu apenas três vereadores.

Caso ocorra a aliança DEM-PSDB-PMDB para o segundo turno em Florianópolis, como vem sendo cogitada, Berger acrescentará mais três vereadores da aliança PSDB-DEM, formando uma base com dez vereadores. Já Amin, que negocia apoio do PT - com um vereador - e da coligação PCdoB-PDT - com mais um, pode conseguir uma base de cinco.

O vereador mais votado em Florianópolis foi Gean Loureiro (PMDB), que na eleição passada havia concorrido pelo PSDB. Loureiro, que fez 7.680 votos, é próximo a Berger. O segundo vereador mais votado foi João Amin (PP), filho de Esperidião e Angela Amin, ex-prefeita de Florianópolis, que nesta sua primeira eleição já conquistou 6.271 votos.

Em Salvador, embora os candidatos do PT, Walter Pinheiro, e do PMDB, João Henrique Carneiro, tenham terminado o 1º turno praticamente empatados, se eleito, o pemedebista terá uma base maior de apoio na Câmara de Vereadores. Isso se os partidos que os apóiam nesta eleição seguirem com João Henrique na prefeitura. Dos 41 vereadores eleitos, 16 deles são de partidos de sua coligação, a maior deste ano, com nove partidos. O PMDB elegeu seis vereadores. Já Pinheiro, caso assuma o cargo, terá dez vereadores de partidos coligados, também seis do PT. O partido multiplicou por três sua participação na Câmara.

Em Cuiabá, onde haverá disputa em segundo turno entre o prefeito Wilson Santos (PSDB) e o empresário Mauro Mendes (PR), a Câmara de terá apenas oito das 19 cadeiras ocupadas por novatos. Com baixo índice de renovação, Cuiabá terá uma maioria relativa de onze vereadores para a coligação de Wilson Santos. Em caso de vitória, Mauro Mendes teria mais dificuldades para transitar na Câmara.

Entre os prefeitos reeleitos com grande base na Câmara está João da Costa (PT), de Recife (CE). Dos 37 vereadores, 25 dos eleitos fazem parte da coligação que o elegeu, formada por 16 partidos. O partido com o maior número de vereadores será, a partir de 2009, o PT, com cinco eleitos. Em seguida, estão PHS e PTB, com quatro membros nas bancadas. Na oposição, os partidos com mais vereadores serão o DEM e o PTC, com três eleitos cada.

O prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), reeleito no primeiro turno com 77% dos votos válidos, terá apoio de pelo menos 28 dos 38 vereadores do município. Do PSDB foram eleitos 13 nomes (são 10 na atual gestão) e outros 15 fazem parte de sua aliança.

O campeão de votos da capital paranaense, no entanto, é da oposição. O apresentador de tevê Roberto Aciolli, do PV, teve a preferência de 17.377 eleitores (ou 1,8% dos votos válidos). O PT terá três vereadores e o PMDB conseguiu eleger dois. Em Curitiba, 20 vereadores foram reeleitos e 18 são estreantes.

Em Goiânia, o prefeito reeleito Iris Rezende (PMDB) também terá maioria folgada na Câmara. Dos 35 eleitos no domingo, 27 compõem a aliança de partidos aliados ao prefeito. Apenas 16 das 35 cadeiras foram renovadas. Sozinho, o PMDB elegeu 11 vereadores, inclusive o jogador Túlio Maravilha, atual artilheiro do Vila Nova e da segunda divisão do Campeonato Brasileiro.

(Samantha Maia, de São Paulo, Ana Paula Grabois, do Rio, Sérgio Bueno, de Porto Alegre, Danilo Jorge, de Belo Horizonte, Raquel Salgado, de Salvador, Mauro Zanatta, de Goiânia, Vanessa Jungerfeld, de Florianópolis, Marli Lima, de Curitiba, e Carolina Mandl, do Recife)