Título: EDF quer reaver capital e pode desistir da concessão
Autor: Cláudia Schüffner e Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 23/02/2005, Empresas &, p. B7

Analistas trabalham com dois cenários para o fim da novela da Light. O pior é o que poderá se desenhar no caso da Fazenda não acenar com uma solução para o desequilíbrio econômico-financeiro da distribuidora. A direção da companhia só vê saída para a crise atual com uma correção adequada da tarifa. Como deixou claro o presidente da Light, Jean-Pierre Bel, a companhia não está pedindo socorro financeiro ao governo e quer apenas reaver R$ 300 milhões que lhe são de direito e que haviam sido negados pela Aneel em novembro. Se as negociações tomarem outros rumos, que desagradem a EDF, o que parece implícito é que não está descartada a devolução da concessão, com o consequente lançamento dos investimentos como prejuízo no balanço do grupo. "O conglomerado está fazendo uma limpeza dos seus ativos ruins no mundo inteiro para melhorar o valor de suas ações quando fizer a oferta pública", afirma um observador atento que já esteve no quartel-general da empresa em Paris. Um cenário mais otimista prevê a permanência da EDF no capital da Light, mas diluindo sua participação aos poucos. E os próximos passos em direção ao reequilíbrio da distribuidora passam pelo BNDES. Se conseguir reequilibrar sua geração de caixa, o banco vai entrar no capital e, aí, haverá naturalmente uma primeira redução da EDF. A multi estatal francesa tem hoje 95% da Light e essa participação deve alcançar até 98% no momento seguinte à capitalização do mútuo, de US$ 400 milhões. Mas com a entrada do BNDES, que é o passo seguinte no processo, este percentual cai para 78%. A conversão pelo BNDES das debêntures da Light em ações, pode ser condicionada à assinatura de um acordo de acionistas que dê ao banco um assento no conselho de administração. A Light terá que aderir ao Novo Mercado da Bovespa, outra pré-condição imposta pelo programa, e com isso terá prazo de três anos para aumentar o "free-float" dos atuais 5% para 25%, de modo abrir espaço para que o mercado possa ter acesso às ações. Essa abertura para o mercado terá que ser feita através da emissão de ações da Light e aí se desenham duas possibilidades. Numa delas, o BNDES fica com seu lote de 20% para negociar mais tarde a venda de parte do capital para um grupo privado. No outro, o banco promove uma venda pulverizada dessas ações para ajudar a empresa a alcançar o free float de 25%. Nesse caso, ele abriria mão do conselho e do acordo de acionistas. Caso o banco decida manter suas ações em um bloco, caberá à EDF vender ou diluir suas ações, reduzindo sua presença no capital para até 51%. Esse último modelo é que deve vigorar ao menos por cinco anos. Pelo menos isso é o que vem sendo vislumbrado por articuladores que lutam para evitar uma degradação da empresa. As dificuldades enfrentadas pela Light já foram expostas até mesmo ao presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva e o presidente do BNDES, Guido Mantega, também está "alinhado" entre os que torcem por um final feliz. Também não têm faltado telefones de banqueiros e consultores para o ministro da Fazenda, expondo os riscos que uma solução não satisfatória para a Light trariam ao país. A ministra Dilma Roussef não está insensível aos efeitos que um "default" completo da Light, e a subsequente devolução da concessão, podem causar ao setor elétrico nacional. O temor é de que isso também contamine as tentativas de atrair investidores para as próximas licitações de usinas novas. (CS e VSD)