Título: BC tem atuação tímida no câmbio, dizem analistas
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2008, Finanças, p. C2

Com a piora da crise financeira mundial, que a cada dia fica mais grave, o Banco Central brasileiro vem tendo atuação tímida para conter a piora do cenário no mercado local, afirmam analistas consultados pelo Valor. A principal crítica é com a atuação do BC no mercado de câmbio, deixando o dólar subir muito em um espaço de tempo muito curto. Foto. Sergio Zacchi / Valor

Alfredo Moraes, da Andima: "mudança rápida do dólar deixa cicatrizes"

Os analistas argumentam que a atuação recente do BC em nada lembra a ação anterior, quando o dólar registrava baixas diárias. Naquela ocasião, o BC entrou comprando a moeda americana em vários momentos para evitar que as cotações desabassem ainda mais.

Nas últimas semanas, com a piora do cenário, o banco não teve o mesmo comportamento. O dólar saiu rapidamente da casa dos R$ 1,60 para R$ 1,80 e em seguida ultrapassou os R$ 2,00 para bater ontem em R$ 2,20.

Na avaliação de Alfredo Moraes, presidente da Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro), o dólar em um nível mais alto não é ruim para a economia. Beneficia, principalmente, as empresas exportadoras. O problema foi a velocidade com que a moeda americana chegou nesse nível. "A mudança do patamar do câmbio foi muito rápida e isso deixa cicatrizes", diz Moraes.

Entre as "cicatrizes", estão os problemas das empresas exportadoras, como a Sadia, que anunciou perdas de R$ 760 milhões por conta de aplicações em derivativos ligados ao câmbio, e a Aracruz, com prejuízo de R$ 1,95 bilhão também no mercado de derivativos. Para Moares, um número maior de intervenções do BC daria maior tranquilidade ao mercado, principalmente quando o dólar saltou da casa dos R$ 1,80 e superou os R$ 2,00.

Arthur Carvalho Filho, economista-chefe da Ativa Corretora, a atuação do BC no mercado ontem, por meio de um "swap" cambial, já sinaliza que o nível de R$ 2,20 preocupa a autoridade monetária. No total, foram ofertados US$ 2,1 bilhões, mas US$ 1,468 bilhão foram efetivamente vendidos. Para o economista da Ativa, o próprio cenário atual contribui para trazer uma "ambiguidade" que atrapalha as decisões. Ao mesmo tempo, há o dólar disparando, os preços das commodities despencando e o fim das linhas externas de crédito a ponto de comprometer a oferta de crédito interno.

Entre os especialistas, há também quem critique a atuação do BC no mercado de crédito. Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade) diz que "é chegado o momento do Banco Central ser mais agressivo na liberação dos compulsórios bancários". Ele cita como exemplo as taxas do compulsório nos Estados Unidos (de 10%), China (16,5%) e da zona do euro (média de 3%), enquanto no Brasil as taxas estão em 53% (sobre os depósitos à vista) e 23% (depósitos a prazo). Há R$ 260 bilhões em depósitos compulsórios dos bancos no BC.

Para o vice-presidente da Anefac, a atuação do BC tem que ser no sentido de se "evitar o pior" e não ser tomada "após o pior" acontecer. O BC, diz ele, não pode deixar que a falta de liquidez no mercado comprometa o desenvolvimento da economia. "Nos outros países, o banco central tem agido para evitar uma recessão." Outra medida que deveria ser tomada é uma redução das taxas básicas de juros, diz ele.