Título: Contágio se intensifica e derruba os emergentes
Autor: Oakley, David
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2008, Finanças, p. C5
Os ativos dos mercados emergentes testemunharam suas quedas mais expressivas em um dia em duas décadas, ontem, num momento em que a crescente crise financeira global se transferiu rapidamente para o mundo em desenvolvimento.
Praticamente todos os mercados emergentes foram atingidos pela dramática deterioração na confiança, enquanto cotações de moedas e de bônus despencavam, caindo a níveis baixos recordes em meio a uma fuga de ativos de maior risco. Ian Hamett, do Absolute Strategy Research, disse: "O mercado acordou para o fato de que este é um aperto econômico global. Não se restringe aos mercados de crédito".
Nigel Rendell, estrategista sênior de mercados emergentes no RBC Capital Markets, disse: "A linha de baixo é que o aperto de crédito se espalhou dos EUA para a Europa. O que estamos vendo é a liquidação de tudo que seja remotamente arriscado - e isso significa ativos de mercados emergentes".
"Presenciamos esta cena nas semanas passadas - e ela simplesmente vem crescendo conforme os investidores vão ficando ainda mais preocupados com a economia mundial", afirmou. "Os investidores só depositarão o seu dinheiro no mais seguro dos ativos. Isso significa que os mercados emergentes sofrerão e que provavelmente continuarão assim por um bom tempo. Todos os mercados emergentes estão sendo atingidos, quer sejam produtores de commodities e tenham vastos superávits ou déficits".
O índice referencial MSCI de ações de mercados emergentes ruiu, caindo 11%, na maior perda em um dia desde o início dos recordes em 1987, ao seu nível mais baixo em quatro anos, num momento em que a derrocada no mundo desenvolvido - brutalmente atacado desde o colapso do Lehman Brothers há três semanas - se intensificava.
Os mercados emergentes já haviam experimentado o pior trimestre de lucros da sua história entre julho e setembro, com retornos caindo 28%. Isso ocorreu devido à queda nos preços das cornrnodities e ao custo crescente da captação de recursos, de acordo com o Merrill Lynch.
Michael Hartnett, estrategista-chefe de ativos de mercados emergentes do Merrill, disse: "A dinâmica entre preços de commodities e taxas de juros de mercados emergentes explica quase perfeitamente o desempenho absoluto e relativo dos ativos dos mercados emergentes".
A deterioração do mercado acionário da Rússia, junto com China e Brasil, empurrou o MSCI para baixo em 47% neste ano, na mais pronunciada queda em pelo menos duas décadas. Os papéis incluídos no índice estão avaliados em 9,1 vezes os lucros a mais relação mais baixa desde 1998, quando os dados foram reunidos pela primeira vez.
O rendimento dos bônus dos mercados emergentes também deu um salto, aumentando 10% ante os bônus do Tesouro dos EUA. O rendimento adicional que os investidores exigem para deter seus próprios bônus de países em desenvolvimento em lugar dos bônus do Tesouro dos EUA se ampliou em 40 pontos-base (pb), para 480pb, o mais alto nível em quatro anos, de acordo com o índice EMBI+ do JPMorgan Chase.
As perdas recentes confundem os fundamentos em grande parte destas economias, já que os governos instituíram importantes reformas. Jerome Booth, do Ashmore Investment Management, disse: "Qual é a economia mais robusta, a do Brasil ou a da Itália? Os fundamentos econômicos continuam vigorosos em muitos mercados emergentes".
Desde as crises dos mercados emergentes da década de 1990 muitos países eliminaram os seus déficits em conta corrente reforçaram suas reservas em moedas estrangeiras e fortaleceram as suas posições fiscais.
Analistas disseram que a noção de que as maiores economias emergentes, do Brasil, Rússia, Índia e China - os BRIC - estariam ilhadas da crise no Ocidente havia sido completamente "ridicularizada".