Título: Lula quer que Fundo discuta fiscalização
Autor: Ulhôa, Raquel; Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2008, Finanças, p. C7

Na reunião com líderes e presidentes de partidos aliados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou ao ministro Guido Mantega (Fazenda) e ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que exijam dos participantes da reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington - para onde viajam hoje - a discussão de medidas de fiscalização e controle do sistema financeiro dos países ricos.

O gesto foi adotado por Lula em reação a um "desabafo" da líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), sobre o fato de o Brasil ter sofrido tanto monitoramento do FMI e agora descobre que o problema está nos países ricos. "Dá até vontade de criar um Fundo Monetário dos Emergentes (FME) para fiscalizar os Estados Unidos e a Europa", disse Ideli. Na reunião, o presidente também pediu a Meirelles que cobre dos presidentes dos Bancos Centrais europeus a não adoção de medidas pulverizadas no continente para enfrentar a crise.

Lula garantiu aos aliados que o governo vai manter os investimentos em infra-estrutra e continuar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) "custe o que custar". E, olhando para Mantega e Meirelles, afirmou que, se for preciso interromper alguma obra, "vocês vão ter que se esforçar muito para me convencer". Citou, como prioritários, as obras em ferrovias e os investimentos da Petrobras.

O presidente afirmou aos aliados que sua preocupação é com o risco de paralisação da economia provocada por uma crise de desconfiança. Nesse momento, pegou uma latinha de pastilha Valda que estava sobre a mesa e disse aos parlamentares: "posso comprar essa latinha, mas não compro porque não sei até onde vai a crise e se vai me atingir". É esse ambiente de desconfiança que Lula quer evitar.

Lula mostrou aos parlamentares que a valorização do dólar teve um efeito positivo nas exportações brasileiras e na redução da dívida. Mesmo assim, afirmou que a escalada de aumento não pode continuar. O presidente fez um apelo para que o Congresso aprove o Fundo Soberano e a Reforma Tributária, "para dar a impressão de vitalidade, ou seja, que o Brasil não parou com a crise".

O presidente avaliou que a crise financeira não deve se estender por muito mais tempo e que o Brasil não deverá ser afetado, segundo o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO). Disse que o país está numa situação confortável e que a projeção de crescimento para 2009 é de 4,5%, mas que voltará a crescer 5,5% a 6% em 2010.

Mantega afirmou aos aliados que a crise tem proporções gigantescas, assemelhando-se à de 1929 e se distanciando das crises periféricas, como a do México.