Título: Governo espera até novembro para mexer no Orçamento
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2008, Brasil, p. A5

Mesmo com o agravamento da crise financeira e a alta do dólar, o governo só vai mexer em novembro nos principais parâmetros da proposta orçamentária - previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e da inflação para 2009 - que está em discussão no Congresso. "É muito prematuro tomarmos qualquer rumo agora, até porque teríamos dificuldade de acertar as nossas projeções", afirmou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Ruy Baron/Valor Paulo Bernardo, ministro do Planejamento: "Se diminuir a receita, vamos ter que diminuir as despesas também"

A proposta enviada ao Congresso trabalha com expansão de 4,5% da economia, IPCA de 4,5% e IGP-DI de 5,3%. A taxa de câmbio média é estimada em R$ 1,71 e os juros básicos devem estar em 13,5% em dezembro do ano que vem. O salário mínimo deve aumentar para R$ 464. Bernardo garantiu a disposição do governo em cortar despesas em 2009, caso a economia cresça abaixo da atual previsão, mas disse ter recebido orientação para preservar os recursos destinados às áreas sociais e aos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "Se diminuir a receita, vamos ter que diminuir as despesas também. Não tem como fugir disso", resumiu.

O ministro defendeu uma atitude de "precaução" do governo, mas afirmou que as medidas para enfrentar o agravamento da crise internacional "são aquelas que tomamos nos últimos seis anos". "Somos pentacampeões em fazer superávit", exemplificou Bernardo, afirmando que os cinco maiores superávits primários dos últimos dez anos foram alcançados na administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, ainda não dá para assegurar se haverá mesmo cortes "sem ter convicção de que isso será necessário". A meta de superávit também está mantida.

Para o ministro, a alta do dólar nos últimas dias é insustentável. "Muito provavelmente esse aumento repentino não vai se sustentar. Não é razoável supor que vá ficar nesse patamar", afirmou Bernardo. Ontem a cotação subiu 5,14%, para R$ 2,31, a maior desde maio de 2006. Em audiência pública na Comissão Mista de Orçamento do Congresso, o ministro advertiu às indústrias que pedir reajustes ao varejo, por um suposto aumento de custos com componentes importados, é "jogar gasolina na fogueira", numa espécie de pedido para a manutenção de preços durante a turbulência dos mercados financeiros. É justamente o contrário do que ameaçam fazer alguns fabricantes de eletroeletrônicos, por exemplo. Em outro sintoma de que a crise pode contaminar o lado real da economia, algumas montadoras de veículos já se preparam para dar férias coletivas.

Ao defender a atuação do governo para evitar a contaminação do Brasil pela crise americana, Bernardo atacou "analistas econômicos" que, segundo ele, têm agido com precipitação ao avaliar a situação do país. "Essa crise já dura mais de um ano. É verdade que houve uma "agudização" em julho e em agosto, mas ela começou antes. E não houve nenhum efeito para o Brasil, a não ser a agitação da Bolsa, que é normal", assinalou o ministro.

Para ele, esses analistas agem com má-fé. "Às vezes há até uma indisfarçável torcida pela crise. São as mesmas pessoas que torceram pelo apagão no início do ano e pelo aumento da inflação no segundo trimestre", insistiu.

O relator do orçamento, senador Delcídio Amaral (PT-MS), disse que a continuidade do cenário de instabilidade vai exigir mudanças nas projeções macroeconômicas, mas é mais prático trabalhar com os parâmetros atuais e fazer alterações só em novembro. "A discussão do Orçamento será mais difícil do que nos anos anteriores", admitiu.