Título: Oposição acusa Lula de mascarar a crise
Autor: Ulhôa, Raquel; Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2008, Política, p. A6

A oposição ao governo federal criticou a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva diante dos reflexos que a crise americana terá no país e acusa o presidente de tentar "enganar o povo" sobre a real situação da economia brasileira. Lideranças do PSDB e do DEM reclamam da falta de empenho do presidente em preparar o Brasil para enfrentar a turbulência internacional, mas sinalizam que votarão a favor da proposta enviada ao Congresso pelo governo federal de auxílio a bancos pequenos e médios bancos e exportadores, por meio de instituições financeiras. Fernando Donasci / Folha Imagem FHC: "Não pode continuar dizendo que está tudo bem, quando o diretor geral do FMI diz que a crise apenas começou"

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse que seu partido cobrará do governo federal "nitidez das medidas que vão ter que ser tomadas", e do presidente Lula, mais "responsabilidade. "Não pode continuar dizendo que está tudo bem, quando hoje mesmo o diretor geral do Fundo Monetário dá uma declaração dizendo que a crise apenas começou. Não é possível ter uma atitude de alheiamento com o propósito de anestesiar o povo. Vamos cobrar numa atitude de responsabilidade", disse, depois de uma reunião com dirigentes do PSDB.

Para FHC, Lula tenta enganar a população quando diz que a crise "chegará mais leve ao Brasil", como Lula disse ontem, no Rio de Janeiro. "Essas declarações são retóricas. Não há ninguém blindado no mundo mais. Há uma interconexão imensa. De modo que isso é uma declaração para fins de enganar a população", criticou. Apesar das críticas à atuação feitas ao governo federal por ele, pelo PSDB e pelo DEM ao governo, o ex-presidente disse que "quem tem responsabilidade política não pode usar esses momentos delicados para tirar proveito". "Não é o meu caso."

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), vice-líder do PSDB no Senado, afirmou que as medidas lançadas pelo governo são assemelhadas às do Proer, adotadas pelo governo FHC para salvar bancos, criticadas na época por Lula. Mas garantiu que o presidente "pode contar" com a oposição para enfrentar a crise. O tucano afirmou, da tribuna, que a oposição "não se recusará a aprovar medidas emergenciais", como a MP que visa assegurar crédito aos exportadores brasileiros e evitar a quebra de bancos de pequeno e médio porte. "Essa crise é uma hecatombe no sistema financeiro internacional e não pode ser diferente no Brasil. O governo tem que ter mão forte agora. A oposição não se recusará a aprovar medidas emergenciais. Nós combatemos duramente medidas provisórias, mas neste caso há exceção, relevância e urgência", afirmou.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) manifestou alívio com as medidas. "Aparentemente elas são boas. É melhor do que fazer bravatas. Estava preocupante a posição do governo", disse. O líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), afirmou que o governo está tomando "providências superficiais" para enfrentar a crise. E o Congresso, por sua vez, está tratando o problema "com pouca profundidade" por causa do processo eleitoral. "O governo brasileiro, que, no primeiro momento disse, de forma ufanista, que a crise não iria chegar no Brasil e que estávamos blindados contra a crise, começa a tomar, timidamente, algumas providências."

Até o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), sempre tão avesso ao excesso de MPs editadas pelo governo, manifestou apoio. "É uma hora em que o Congresso deve ajudar nas soluções. Esta é uma hora que não permite nem discussões estéreis, nem vacilações. E é uma hora em que, inclusive, podemos admitir as MPs, que já se tornam inadmissíveis dentro do Congresso", disse. Segundo Garibaldi, o Parlamento não pode ficar omisso diante da crise.

O PPS pediu ontem a convocação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles para debater no Congresso o impacto da crise. O partido anunciou, em nota, que ajudará a aprovar a MP.

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), afirmou que a MP baixada pelo governo tem "urgência imediata", mas ponderou que pode haver alterações, caso os parlamentares avaliem que seja necessário.