Título: Não há transferência de voto no Brasil, diz presidente do PT
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2008, Política, p. A12

O Diretório Nacional do PT avaliou ontem, em reunião que durou mais de seis horas, que a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos palanques municipais tem um peso político forte, mas não significa, automaticamente, transferência de votos. Vários candidatos que contaram com a participação, pessoalmente ou por intermédio de vídeo, do presidente Lula, não conseguiram êxitos expressivos na campanha. O caso mais emblemático foi da candidata do PT à Prefeitura de São Paulo, considerada o mais difícil embate do partido nesse segundo turno. Lula participou de duas caminhadas com ela, apareceu no horário eleitoral, disse que ambos tinham idéias e projetos semelhantes mas, mesmo assim, a petista virou o primeiro turno atrás do candidato do DEM, Gilberto Kassab.

O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), reconhece que em períodos eleitorais alguns candidatos se apegam a outras questões e acabam esquecendo que em uma disputa municipal os interesses são locais e que as campanhas devem se ater a isso. "No Brasil, não há transferência de votos. O único caso comprovado que temos aconteceu em 1989, quando o então candidato do PDT à Presidência, Leonel Brizola, transferiu para Lula quase a totalidade de seus votos no Rio e no Rio Grande do Sul", recordou Berzoini.

Mesmo assim, Berzoini pediu a Lula que participe das campanhas nos 15 municípios onde o PT disputará o segundo turno. Três deles são capitais: além de São Paulo, o partido enfrenta nova eleição em Salvador e Porto Alegre. E é só na primeira que o embate é contra um candidato da oposição. Em Salvador e Porto Alegre, os candidatos petistas enfrentam adversários do PMDB, outro partido da base aliada do governo federal. "Eu não vejo nenhuma razão de o presidente Lula não comparecer a essas duas capitais. Mas, evidentemente, essas decisões ficam a critério do presidente. Poderemos até não concordar, mas sempre iremos aceitar a decisão dele", afirmou Berzoini. Ele lembrou que o presidente tem sido cuidadoso em demonstrar apoio explícito em cidades onde candidatos da base aliada disputam a prefeitura.

Mas a situação mais complexa para o partido é, de fato, São Paulo. Depois de alguns petistas acharem que seria possível vencer a disputa em primeiro turno, comemorarem a guerra política entre os candidatos Geraldo Alckmin (PSDB) e Kassab, a legenda foi surpreendida com a arrancada do prefeito, que atropelou Marta e virou o primeiro turno com mais votos do que a petista. Berzoini admite que, na última semana, a confusão entre os eleitores de DEM e PSDB acabou e os votos migraram para Kassab. Por outro lado, identificaram falhas na campanha de Marta. "Alguma coisa fez com que a campanha dela tivesse um freio", disse o presidente nacional do PT.

O Diretório Nacional vai mudar a estratégia a partir de agora, buscando um diálogo mais intenso com a classe média e a classe alta paulistana. "Em 2000, tivemos boa resposta junto à classe média. Em 2004, enfrentamos dificuldades, que se repetiram agora". Outra linha de atuação é deixar claras as diferenças entre a gestão de Marta e a de Kassab. "Temos que mostrar quem mudou a educação, quem mudou a saúde, quem revolucionou o transporte coletivo. Foi a Marta, não foi o Kassab", enumerou Berzoini.

Os petistas não escondem a preocupação com o quadro paulistano. Eles sabem que eleição "é onda" e alguns integrantes do Diretório Nacional admitem que a trajetória de Kassab é ascendente. Em Salvador e Porto Alegre, Walter Pinheiro e Maria do Rosário, respectivamente, reagiram no momento certo. Em São Paulo, esse mérito coube ao candidato do DEM. "Eu fui a São Paulo na última semana e fiquei impressionado com a quantidade de pessoas que jogavam fora o panfleto da Marta, dizendo que não votariam nela", disse um integrante do Diretório Nacional.