Título: Telefónica aposta em operações na AL
Autor: Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2008, Tecnologia & Telecomunicações, p. B3

No momento em que se discute qual é a profundidade da crise na economia mundial, a espanhola Telefónica aposta em suas operações na América Latina para se manter em crescimento. Rogerio Pallatta/ Valor Alvarez-Pallete, diretor-geral da Telefónica Latinoamérica: região está preparada para enfrentar o atual ciclo econômico

Apesar de ter reduzido suas projeções para o desempenho da economia latino-americana nos próximos anos, a companhia de telecomunicações decidiu dar continuidade aos investimentos que já havia programado para a região.

A operadora prevê desembolsar, de 2007 a 2010, um valor entre 14 bilhões e 16 bilhões de euros em projetos de infra-estrutura nas companhias que controla na América Latina - especialmente nas áreas de banda larga e telefonia móvel. O montante reservado para o Brasil é de R$ 15 bilhões.

"A Telefónica não limitou seus investimentos por causa do impacto econômico. A empresa vai continuar investindo, inclusive mais do que no ano passado", afirmou ontem o conselheiro delegado Julio Linares, numa entrevista à imprensa.

O executivo, que é o segundo mais importante na hierarquia do grupo, ressaltou que a América Latina é o "pilar fundamental" e o "motor de crescimento" da companhia.

Apesar da turbulência que se viu no mercado financeiro ao longo dos últimos dias, Linares destacou que a confiança na região "continua sendo plena".

Na segunda-feira - enquanto acompanhava por meio do telefone celular a queda nas bolsas de valores do mundo todo -, o presidente da Telefónica no Brasil, Antonio Carlos Valente, afirmou que a situação preocupava. Porém, disse que a orientação do grupo era para manter os projetos em curso.

"A América Latina está preparada para enfrentar com êxito o atual momento do ciclo econômico", acrescentou o diretor-geral da subsidiária Telefónica Latinoamérica, José María Alvarez-Pallete.

Isso não significa que os países da América Latina permanecerão incólumes à crise. A própria Telefónica reduziu suas expectativas para o desempenho da economia regional. A operadora agora espera um crescimento econômico real médio de 4% ao ano para o PIB latino-americano entre 2007 e 2011. A projeção anterior era de 5%.

No entanto, Alvarez-Pallete apontou uma série de razões para argumentar que o impacto não será tão grave quanto em outras partes do mundo. O executivo destacou como fatores positivos o fortalecimento econômico da região nos últimos anos, a reduzida dependência de financiamentos hipotecários - estopim da crise nos Estados Unidos - e a obtenção de grau de investimento por alguns países, como o Brasil. "Hoje, 75% do PIB da América Latina é classificado como grau de investimento, o que abriu uma possibilidade para que muitos fundos passassem a investir ali."

A região tem importância crescente para a Telefónica. Prova disso é que, neste ano, tornou-se o mercado que mais contribui para o faturamento do grupo: representou 37% da receita de 28,2 bilhões de euros obtidas no primeiro semestre.

A América Latina também tem sido a maior fonte de crescimento das vendas. Enquanto o faturamento consolidado do grupo aumentou 6,7% na primeira metade deste ano (em relação a igual período de 2007), as operações regionais expandiram-se 12,2%.

A companhia atua em 13 países latino-americanos, onde tem 148 milhões de assinantes - mais da metade do número de clientes que tem no mundo todo.

No Brasil, a Telefónica controla a Telesp - concessionária de telefonia fixa de São Paulo - e divide o comando da Vivo com a Portugal Telecom. Além disso, tem participação indireta na TIM, por meio de um investimento feito na Telecom Italia.

"Apesar da desaceleração, a América Latina seguirá sendo uma das zonas de maior crescimento para a companhia", afirmou Alvarez-Pallete. "A região tem motores próprios e diferentes daqueles de outras partes do mundo", acrescentou.

A repórter viajou a convite da Telefónica