Título: PMDB unido oficializa candidatura de Temer à presidência da Câmara
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2008, Política, p. A6

Por aclamação, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), foi oficializado ontem pela bancada do partido como candidato à presidência da Câmara dos Deputados para o próximo biênio (2009 e 2010). A reunião foi concorrida, com a presença de 91 dos 96 deputados da bancada, quatro ministros, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT) e as principais lideranças pemedebistas do Senado. A eleição será em fevereiro de 2009. À noite, os líderes e principais políticos do partido participaram de um jantar com o presidente Lula, no Palácio da Alvorada. O deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), que surpreendeu o próprio partido ao conquistar no primeiro turno votos suficientes para disputar o segundo turno da eleição de Belo Horizonte contra Márcio Lacerda - candidato do governador Aécio Neves (PSDB) e do prefeito Fernando Pimentel (PT) -, foi saudado como "a nova estrela do PMDB" pelo líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN). Ao chegar ao plenário da Câmara onde a bancada estava reunida, Quintão foi ovacionado.

O PMDB, que saiu revigorado do primeiro turno das eleições municipais como a sigla que conquistou maior número de prefeituras, mostrou estar unido em torno de seu próximo projeto prioritário: eleger Temer para comandar a Câmara nos dois anos que serão dominados pelas negociações à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O apoio a esse objetivo foi manifestado nos discursos pelos senadores José Sarney (PMDB-AP), Renan Calheiros (AP), Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO), líder da bancada no Senado. "Nossa próxima etapa como partido nessa ascensão que estamos tendo neste momento é alcançarmos a Presidência da Câmara", afirmou Sarney.

"A eleição de Temer é um projeto do partido e do Brasil. E o Senado não será obstáculo para que isso ocorra", disse Jucá. A explicitação do apoio dos senadores tem forte simbolismo, já que o PMDB conviveu com uma divergência histórica entre as bancadas da Câmara e do Senado. E os senadores têm papel fundamental na eleição de Temer, já que a sucessão em uma Casa pode influenciar na outra. Parte do PT cobra, em troca dos votos em Temer, apoio do PMDB do Senado à eleição do senador Tião Viana (PT-AC) para presidente do Senado. Ocorre que o PMDB, por ter a maior bancada também no Senado, teria direito de reivindicar o cargo.

"A prioridade do PMDB é a candidatura de Temer. Quero cumprir tarefa para que ele volte à Presidência da Câmara", afirmou Renan aos deputados. Apesar do entusiasmo, os pemedebistas do Senado ainda não deixam claro que estão dispostos a abrir mão da Presidência do Senado. "No Senado, vamos retardar a discussão", disse Raupp.

Tradicionalmente, a regra na eleição de presidentes das duas Casas é a da proporcionalidade, pela qual a maior bancada indica o presidente. Essa norma já foi descumprida algumas vezes, em geral por acordo partidário. Isso ocorreu na eleição de Chinaglia. Ontem, ele reafirmou sua posição pessoal a favor do pemedebista. "O nosso candidato é Michel Temer", disse. Chinaglia defendeu a necessidade de "aprofundar a unidade entre PT e PMDB até para identificarmos novos projetos."

Temer, aclamado, não escondia o entusiasmo. "Nunca vi uma unidade tão absoluta", afirmou. O líder Henrique Alves considerou a reunião "histórica" pelo alto quórum: dos 96 deputados do PMDB, 91 estavam presentes e outros três mandaram declaração de voto.

Rita Camata (ES) foi a única a se manifestar contra o que considerou processo não democrático de escolha do candidato a presidente - vaga que ela chegou a postular. No discurso conciliatório que fez, Temer elogiou Rita por ter revelado uma faceta do PMDB: a da controvérsia. E pediu aplausos para ela, que já havia se retirado. Os ausentes que nem fizeram declaração de apoio foram Osmar Serraglio (PR) e Hermes Parcianello (PR). Serraglio também cogitou lançar candidatura.

Um deputado que já está em campanha para presidente da Câmara é Ciro Nogueira (PP), segundo secretário da Câmara, que tem bom trânsito principalmente entre os deputados com menos expressão - os considerados do "baixo clero".