Título: Itamaraty repudia com veemência a proposta
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 23/02/2005, Brasil, p. A6

O Ministério de Relações Exteriores anunciou que "repudia com veemência" as declarações do candidato francês à direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, defendendo imposição de regras internacionais na gestão da Amazônia. A idéia foi classificada como "uma loucura" pelo Secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco. A tese de Lamy contraria decisões internacionais já estabelecidas desde a conferência da Organização das Nações Unidas sobre Meio Ambiente no Rio de Janeiro, em 1992, a Eco-92, lembrou a assessoria de imprensa do Itamaraty. A Agenda 21, criada na Eco-92, garante "plena autonomia" aos países na gestão dos recursos naturais próprios. "A posição brasileira é diametralmente oposta à expressada pelo senhor Pascal Lamy e repudia com veemência qualquer tentativa de relativizar a soberania do Brasil sobre seus recursos naturais", manifestou-se o Ministério das Relações Exteriores, pela assessoria de imprensa. "O governo não aceita nenhuma hipótese de qualificação de soberania". Apesar da indignação do comentário oficial, as declarações de Lamy foram recebidas com discreta satisfação por alguns diplomatas, que consideraram a opinião sobre florestas tropicais um fator de atrito entre o candidato francês ao comando da OMC e boa parte dos países em desenvolvimento com peso na escolha do futuro diretor-geral (cargo para o qual concorre também o brasileiro Luis Felipe de Seixas Corrêa). Para o secretário Capobianco, as opiniões de Lamy refletem uma visão "européia" e desinformada sobre as florestas tropicais. "Acham que na Amazônia não tem populações, só plantas e animais, que está fora do circuito econômico dos países". Capobianco comenta que o Brasil já se comprometeu oficialmente com a preservação do patrimônio biológico e ambiental da Amazônia, e com o uso sustentável dos recursos naturais. "Qualquer colaboração internacional é preciosa, mas sempre se respeitando as políticas do governo nacional", disse o secretário. Ele vê um mérito nas declarações de Lamy, por refletirem uma preocupação com a importância da preservação dos recursos naturais das florestas nos trópicos. "Mas isso não pode ser imposto", ressalva. Capobianco afirma que o Brasil tem seguido a tendência internacional de buscar o uso sustentável e a conservação do patrimônio natural.