Título: PT diminui crescimento nos grotões
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2008, Especial, p. A12

O controle inédito de cinco governos estaduais não garantiu ao PT impulso nas pequenas cidades na eleição municipal deste ano. Nos chamados "grotões", o crescimento do partido perdeu velocidade, tanto em número absoluto de prefeituras quanto em termos porcentuais. O levantamento feito pelo Valor, com dados do TSE, não inclui os 29 municípios em que haverá segundo turno. Sergio Zacchi/Valor Ana Júlia Carepa, governadora do Pará: o PT cresceu nos pequenos municípios paraenses menos que o PMDB

A sigla, que elegeu há quatro anos 219 prefeitos em cidades com menos de dez mil eleitores, quando contava com três governos estaduais, passou para 277, um ganho de 58 prefeituras, ou 23%. De 2000 para 2004, havia crescido 170%, somando 139 aos 80 municípios de sua base inicial.

Na faixa de municípios de 10 a 50 mil eleitores o crescimento petista também perdeu velocidade. Entre 2000 e 2004, havia passado de 60 para 134 municípios. Agora, foi para 203.

O desempenho vai na contramão do de aliados do governo, como PMDB e PSB, que avançaram sobre nas pequenas cidades nos Estados em que governam. E mostra que o PT não monopolizou os ganhos políticos com a disseminação do programa Bolsa Família: em 2004, segundo dados disponíveis na página do partido na Internet, 75% dos beneficiários do programa vinham de 4% dos municípios brasileiros. Agora, a mesma porcentagem dos atendidos está espalhada em 92% das cidades do país.

Sempre dispondo de uma ampla rede de apoios, os governadores organizam as alianças nas pequenas cidades e em geral impulsionam suas legendas. No Maranhão, por exemplo, o PDT elegeu em 2004 apenas três prefeitos em cidades com menos de dez mil eleitores e seis na faixa entre dez mil e 50 mil eleitores. Depois da chegada do governador Jackson Lago ao poder, os prefeitos pedetistas nestas faixas passaram para respectivamente 23 e 40. O mesmo não acontece nos Estados onde governadores petistas mandam.

Depois de quase seis anos de poder, o PT do governador do Piauí, Wellington Dias, venceu em apenas 13 municípios do Estado na menor faixa de eleitores, quase cinco vezes menos do que o PTB do senador e empresário João Vicente Claudino. É superado ainda pelo PSB e pelo PMDB.

No Pará, a chegada ao poder da governadora Ana Júlia Carepa impulsionou o partido nos municípios entre 10 e 50 mil eleitores, que fazem a maioria das cidades no Estado, mas o PMDB do deputado Jader Barbalho cresceu ainda mais. O PT passou de dez para 19 municípios, enquanto o número de pemedebistas saltou de 14 para 28.

Igual situação ocorreu na Bahia. O PT do governador Jaques Wagner avançou na quantidade de pequenas cidades que controla, mas muito menos do que o PMDB do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Os petistas passaram de três para 26 cidades controladas com menos de dez mil eleitores. O PMDB pulou de quatro eleitos em 2004 para 52 agora. Em Sergipe, Estado com apenas 74 municípios, o PT teve crescimento pouco expressivo: passou de cinco para sete prefeituras. Apesar do petista Marcelo Déda governar o Estado. A exceção é o Acre, onde os petistas controlam o governo estadual desde a eleição de 1998 e elegeram doze dos 22 prefeitos.

Entre os partidos de grande porte, nenhum apresentou recuo semelhante ao do DEM, antigo PFL, que pela primeira vez em sua história não dispôs de nenhum governador organizando alianças municipais. O único filiado à sigla é José Roberto Arruda, do Distrito Federal, unidade da Federação que não é dividida em municípios.

Depois de eleger 709 prefeitos em cidades com menos de dez mil eleitores em 1998, ocasião em que contava com seis governadores, o então PFL caiu para 501 vitórias nestas pequenas cidades em 2004 e despencou para 316 no último domingo.

Na faixa das cidades que contam entre 50 e 200 mil eleitores, a influência da ação dos governadores é menor e o quadro partidário pouco variou entre 2004 e 2008. O PMDB, PT e o PSDB cresceram e se mantiveram como as principais siglas entre as cidades médias. O número de prefeituras controladas pelos pemedebistas pulou de 46 para 67 prefeituras, concentradas em quatro Estados: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná.

O PT passou de 43 para 56, mantendo a concentração em três Estados governados hoje por tucanos: Minas Gerais , São Paulo e Rio Grande do Sul. Em relação a 2004, o PT praticamente estancou nas cidades médias paulistas, passando de doze para treze prefeituras. Já em Minas e no Rio Grande do Sul o PT cresceu de maneira vigorosa. Passou de seis para doze cidades médias mineiras e de seis para dez cidades gaúchas, situadas entre 50 e 100 mil eleitores.

O PSDB avançou de 41 para 51 municípios controlados nesta faixas, mas somente em São Paulo teve desempenho expressivo entre as médias cidades. Passou de 16 para 20 vitórias nesta faixa do eleitorado sob o comando do governador José Serra. Em Minas Gerais o partido perdeu uma prefeituras entre as cidades intermediárias. A sigla conseguiu oito municípios em 2004 e agora ficou com sete, atrás do PT e do PMDB. O avanço tucano ocorreu pela conquista de cidades médias em Estados em que o partido era inexpressivo ou havia passado por um período de encolhimento, como Pernambuco, Ceará e Maranhão.

O enfraquecimento do DEM torna o partido mais dependente do que nunca do desempenho do prefeito de São Paulo e candidato à reeleição Gilberto Kassab, que tenta a vitória no segundo turno em São Paulo. Se reeleito, Kassab administrará 8,1 milhões de eleitores, quando a soma da população administrada pelos 494 prefeitos do DEM já eleitos e reeleitos em todo Brasil não passa de 7,8 milhões. Além de São Paulo, o DEM disputa o segundo turno apenas em Joinville (SC).

O PT, mesmo se perder em todas as eleições em segundo turno que irá disputar no próximo dia 26, praticamente já igualou a população administrada que conquistou em âmbito municipal em 2004. Nas 548 cidades em que venceu no último domingo, irá governar uma população de 16,9 milhões de eleitores. Há quatro anos, foram 17 milhões. O partido disputa o segundo turno em 17 cidades que envolverão cerca de 21,4 milhões de habitantes.

Sem controlar a prefeitura de São Paulo desde 2006, quando José Serra renunciou para concorrer ao governo estadual, o PSDB cairá em relação à população administrada por prefeitos tucanos que obteve nas urnas em 2004. O partido assumiu naquele ano prefeituras que se responsabilizaram por uma população de 25,1 milhões de eleitores. Agora, garantiu no último domingo o governo municipal sobre 15,8 milhões. As dez cidades onde os tucanos disputarão o segundo turno (São Luís, Cuiabá, as mineiras Contagem e Juiz de Fora, as paulistas Bauru, Guarulhos e São Bernardo do Campo, Londrina e Ponta Grossa no Paraná e Campina Grande na Paraíba) somam cerca de 4 milhões de eleitores.

O PMDB já assegurou o controle de prefeituras que somam 20,1 milhões de eleitores. Ainda que perca todas as nove disputas que terá no segundo turno, já garantiu crescimento em relação a 2004, quando a soma de suas prefeituras lhe outorgou a administração sobre 16,9 milhões de eleitores. O PMDB poderá atingir uma população governada de 30 milhões de eleitores caso vença o segundo turno em Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre, Florianópolis, Belém, Anápolis (GO), Bauru (SP), Campina Grande (PB) e Montes Claros (MG).