Título: GM reduz taxa de juros para segurar demanda
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2008, Empresas, p. B7

Os fabricantes de veículos e revendedores começam a reduzir suas margens para tentar evitar uma iminente queda de demanda em conseqüência do aperto no crédito. O Banco da General Motors lança hoje uma campanha com taxa de juros de 0,99% para o financiamento de quatro modelos. É quase a metade da taxa média, de 1,86%, que começou a ser cobrada esta semana.

Num movimento semelhante, alguns concessionários começaram a baixar preços ontem para compensar o aumento dos juros. "Reduzindo os preços em R$ 1,5 mil em carros que custam em torno de R$ 30 a R$ 35 mil e conseguimos manter o valor da prestação mesmo com a elevação de juros", afirma um revendedor.

Em menos de 15 dias, a taxa média de juros para planos de financiamento de 60 meses passou de 1,31% para 1,86%. A redução dos preços é uma saída para evitar a queda de vendas em um momento em que as montadoras continuam trabalhando em ritmo acelerado.

"Foi uma infeliz coincidência os juros aumentarem bem no momento em que a fábrica havia programado um aumento de entregas", diz um vendedor do varejo. Com um estoque contratado, como dizem os vendedores de carros, a saída é sacrificar margens para não ter que arcar com altos custos do estoque.

No setor de autopeças, o planejamento para o início de 2009, que já deveria estar sendo preparado, parou por conta das incertezas. A direção da filial de uma multinacional de componentes automotivos alemã diz que não vai se pronuncia antes de expor à matriz o que está acontecendo no país. Nessa mesma época no ano passado os fabricantes de autopeças já tinham um horizonte definido.

As férias na General Motors e na Fiat, anunciadas na semana passada, já levam os fabricantes de autopeças que vende direto para as montadoras a cancelarem pedidos de seus fornecedores. "Ninguém está querendo atender o telefone para não ter que negociar preços", afirma uma fonte do setor de autopeças.

As negociações de preços estão indefinidas nesse setor por vários fatores, que englobam desde as incertezas em torno dos reflexos do aperto no crédito até a queda no preço do petróleo e a alta do dólar. A redução no preço do petróleo é motivo para que as empresas de autopeças e fabricantes de veículos forcem uma redução de preços nos componentes derivados do insumo.

Ao mesmo tempo, a alta do dólar traz de volta ao mercado nacional empresas que haviam sido seduzidas pelos preços dos produtos chineses. "Muita gente que resolveu ganhar 20% de desconto comprando na China está tendo de arcar com uma alta de mais de 30% no dólar", lembra um fabricante de componentes de acabamento interno de carros.

Como a crise ainda não apareceu claramente, o silêncio é a postura adotada hoje pela maioria dos representantes da indústria. Em setembro, a média diária de vendas de veículos cresceu e a produção caiu, mas mesmo assim os estoques nas revendas e na indústria aumentaram.

Por um lado, o clima de incerteza e a alta dos juros chegam a dar um certo fôlego a um setor que vinha num ritmo frenético demais. Os gargalos atrapalhavam. Além do custo mais alto das horas extras, que traziam riscos à qualidade, em muitos casos recentes as empresas gastaram muito tendo de recorrer até ao transporte aéreo para conseguir fazer as peças chegarem na linha de montagem a tempo.

Existia ainda um grande receio de que as empresas de menor porte não conseguissem seguir o ritmo de investimentos das montadoras. O analista de um banco que prefere não se identificar, diz, no entanto, ter certeza de que seus clientes estavam mais felizes mesmo com a corda no pescoço do que nesse clima de apreensão em relação ao futuro. (Colaborou Guilherme Manechini)