Título: Zoneamento detecta 37 milhões de hectares para plantio de cana
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2008, Agronegócios, p. B11

Ainda à espera de uma arbitragem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o estudo de zoneamento do plantio de cana-de-açúcar no país detectou a existência de 37 milhões de hectares de pastagens degradadas com aptidão total para o cultivo da gramínea, sobretudo nos Estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Maranhão, Paraná e Rio Grande do Sul. Ueslei Marcelino / Folha Imagem "Somos francamente favoráveis, por razões ambientais, à expansão do etanol e do biodiesel", disse Minc, no Senado

O governo não permitirá o plantio da cana no bioma amazônico nem no Pantanal, à exceção de áreas onde já existem usinas implantadas, mas decidiu dar prioridade e incentivos ao cultivo da gramínea em uma área de 5 milhões de hectares na próxima década.

Como compensação pela proibição do cultivo da cana, o governo incentivará, com política de crédito e isenções fiscais, a produção de óleo de dendê em até 2 milhões de hectares no Pará, Amazonas e Roraima. "Somos francamente favoráveis, por razões ambientais, à expansão do etanol e do biodiesel", afirmou ontem o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, em audiência pública no Senado. "Temos sete milhões de hectares hoje e vamos expandir para mais cinco milhões. E não vamos admitir que barreiras comerciais contra nosso etanol sejam usadas como argumentos ambientais".

O levantamento das áreas de exclusão e de aptidão plena identificou a existência de 65 milhões de hectares de terras, hoje ocupadas por pastagens, como disponíveis e recomendadas para o cultivo da gramínea no Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste. O estudo do consórcio de cinco órgãos de pesquisa estatais sugere, segundo apurou o Valor, restringir áreas com temperatura média anual abaixo de 19ºC e risco de geadas acima de 15%, além de excluir regiões com baixa deficiência hídrica, superior a 120 dias entre setembro e março.

"As restrições no mercado externo são muito fortes. Então, não plantar no bioma amazônico é uma questão emblemática, não uma questão técnica. É uma decisão política para não sofrer restrições lá fora", admitiu o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, na audiência do Senado. "Se plantarmos nas áreas indicadas, não estaríamos competindo com a produção de alimentos. Não se pode proibir o plantio, mas podemos direcionar", disse o ministro.

O estudo sugere um máximo de quebra de safra de 20% para variedades de cana com até cinco cortes. Os cientistas aconselham o governo a limitar o déficit hídrico a 200 ou 300 milímetros. O trabalho sugere evitar recomendações em áreas com 90 dias sem excedente hídrico na época da colheita e desestimula incentivos em zonas de reservas florestais e beiras de rio.

O estudo recomenda também o uso de terras com declividade máxima de 12% para incentivar a mecanização e evitar queimadas nas futuras áreas de produção. As regiões mais favoráveis precisam ter média anual acima de 20ºC, produtividade superior a 60 toneladas por hectare, risco de geada menor que 15% e irrigação de "salvamento" (após o plantio) em áreas de Cerrado. Essas áreas de exclusão devem sofrer limitações de financiamento do BNDES à construção ou ampliação de usinas de etanol, restrições na concessão de crédito rural ao plantio de cana e redução na cobertura de seguro oficial.

A adoção de eventuais medidas dependem ainda de uma negociação política com o Congresso Nacional. O único ponto de desacordo entre os Ministérios da Agricultura e o do Meio Ambiente está na permissão ao plantio de cana-de-açúcar em algumas áreas dentro da bacia do rio Paraguai.