Título: Desembolso do BNDES cresce, mas novas liberações recuam
Autor: Cruz, Patrick
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2008, Agronegócios, p. B12

O volume de desembolsos do BNDES para o setor agropecuário manteve o ritmo de crescimento no acumulado de 2008 até agosto, mas perdeu força a partir do segundo semestre, quando começou "oficialmente" a safra 2008/09 e a grita pelo aperto de crédito no campo ganhou força. Entre julho e agosto, houve quedas similares dos desembolsos em 2007 e em 2008, mas a redução das aprovações para novas liberações foi muito maior em agosto deste ano.

Todas as linhas do banco para o agronegócio somaram desembolso de R$ 3,640 bilhões até agosto, volume 13,2% maior que o do mesmo período de 2007. Na primeira metade deste ano, os desembolsos haviam chegado a R$ 2,840, um crescimento de 15,8%. O acumulado de julho a agosto foi de R$ 800,2 milhões, ou 5% a mais que no mesmo intervalo de 2007.

Entre um mês e outro, os desembolsos sempre costumam cair. Na aprovação de novas linhas, porém, os dados sugerem forte desaquecimento. Em 2007, o declínio no volume de aprovações entre julho e agosto havia sido de 14,6%, para R$ 190,1 milhões. Em 2008, a queda foi de quase 70%, passando dos R$ 276,6 milhões aprovados em julho para R$ 85,8 milhões em agosto.

O BNDES faz a ressalva de que grande parte da queda pode ser explicada pela extinção, em 2007, de dois programas que vigoravam desde 2006. O Procapcred, voltado a cooperativas de crédito, e o Programa de Refinanciamento de Insumos Agrícolas (Proinsa). Ambos faziam parte do BNDES Automático, linha para o financiamento de até R$ 10 milhões e destinada tanto para novos projetos quanto para o reforço de capital de giro.

"Com eles, os desembolsos cresceriam mais", diz Edson Moret, economista-sênior do departamento de suporte e controle operacional do banco. Os desembolsos do BNDES Automático foram de R$ 185,7 milhões entre janeiro e agosto, volume 72,9% menor que o do mesmo período de 2007.

Ainda que se faça a ressalva, e ainda que agosto costume ser um mês tradicionalmente fraco em desembolsos e também liberações de novas linhas, o mês de agosto deste ano foi de dimensão particularmente baixa. Somadas todas as linhas para o agronegócio, o montante de R$ 85,8 milhões foi o de menor monta em liberações desde 2004, mesmo antes do lançamento de Procapcred e Proinsa.

Assim como os desembolsos, as liberações cresceram no acumulado de 2008 até agosto e também na comparação do primeiro semestre deste ano com o de 2007. Na contramão, na soma de julho e agosto, as liberações caíram 12,23%, para R$ 362,4 milhões.

Os dois produtos foram lançados em 2006 como ferramenta para reforçar o caixa do campo em um ano em que, abatidos por preços baixos das commodities agrícolas, os produtores amargaram o aumento das dívidas. "Eles eram para um problema daquele momento, de preços baixos, que não existe mais", diz Moret.

As commodities agrícolas, ainda que em fase de queda, mantêm-se com preços elevados em relação às médias históricas. Por outro lado, a crise tornou-se mais aguda na segunda metade deste ano - ela não derrubou os preços para os níveis de 2006, mas afugentou financiadores e encareceu fortemente os insumos, justamente as duas frentes que, de forma emergencial, os dois produtos buscaram auxiliar de forma emergencial.

"Acredito que deva vir alguma coisa por aí, na linha dos dois produtos. E não levaria seis meses para aprovar, mas 30 dias. Dois meses já seria um prazo longo", diz Moret, que ressalva não ter ciência sobre a gestação de linhas do gênero.

Na semana passada, para aliviar o aperto do crédito à agricultura, o governo antecipou a liberação de R$ 5 bilhões em linhas do Banco do Brasil já programadas para a safra 2008/09. Ainda que bem recebida, a decisão foi criticada por ter demorado demais para ocorrer. Com pouco dinheiro, o plantio iniciou em algumas regiões sem que muitos tivessem comprado insumos.

Ontem, o Banco Central reduziu de 8% para 5% do recolhimento compulsório dos depósitos à vista e a prazo de correntistas, o que deverá liberar um adicional de R$ 23,2 bilhões ao mercado.