Título: Aumenta a pressão por crédito, leilões e rolagem de dívida
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2008, Agronegócios, p. B12

Os produtores iniciaram ontem uma ofensiva para negociar com o governo medidas consideradas fundamentais para irrigar o mercado de crédito e garantir liquidez em pleno plantio da nova safra de grãos.

Capitaneado pelos produtores de soja e algodão de Mato Grosso, e com apoio das indústrias de óleos vegetais (Abiove) e exportadores de cereais (Anec), a frente quer a prorrogação da parcela das dívidas recém-renegociadas com vencimento em 2008, a liberação de recursos para bancos e tradings com o risco assumido pelo Tesouro Nacional, além da realização de leilões de prêmios para o escoamento da produção de soja.

O custo das medidas, apenas em Mato Grosso, está estimado em R$ 5 bilhões. "Precisamos de dinheiro na veia. É melhor na mão das tradings do que no Banco do Brasil", disse o vice-presidente da associação dos produtores de algodão (Ampa), Carlos Ernesto Augustin. Conforme ele, o segmento deixou de ter acesso a pelo menos US$ 360 milhões de capital de giro neste mês.

"Eram operações já contratadas em grandes bancos internacionais e que foram suspensas por falta de liquidez no sistema". A situação preocupa ainda mais porque os produtores terão uma reduzida proteção contra variações de preços (hedge). "Na média, os produtores de Mato Grosso fazem 65% de hedge. Neste ano, foram apenas 24% até agora", afirmou o superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola (Imea), Seneri Paludo.

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, afirmou ontem que o governo estuda a liberação de R$ 3,5 bilhões a R$ 5 bilhões em recursos dos depósitos compulsórios para atender aos bancos privados. "Tínhamos uma pauta de crédito de R$ 5 bilhões e o Banco do Brasil antecipou. Não deve faltar crédito, porque o governo tem como suprir", garantiu. Para as tradings, Stephanes acenou com uma "fórmula para dar liquidez", mas não especificou o caminho.

O ministro defendeu, ainda, que os fundamentos dos mercados internacionais continuam positivos para os produtores brasileiros. "Temos demanda mundial que vai se manter. Possivelmente, pode crescer menos, mas a última commodity que vai sofrer restrições é a agrícola", disse.

Sobre o crédito para a comercialização da nova safra, o ministro afirmou que ainda há tempo para pensar em soluções. "Há dois momentos: garantir que se plante agora e, depois, garantir renda. Mas o governo pode comprar, até porque não temos estoques".