Título: Atual safra de grãos terá produtividade menor
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2008, Agronegócios, p. B12

Marcado pela adoção de um pacote tecnológico mais modesto, o novo ano-safra 2008/09, cuja colheita começa em janeiro, terá uma produtividade inferior ao ciclo 2007/08. O primeiro levantamento da nova safra, divulgado ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mostra um recuo de 2,4% nas principais lavouras de todo o país. No ciclo anterior, a Conab apontava, em sua estimativa inicial, produtividade 1,4% maior que em 2006/07.

O diretor de logística da Conab, Sílvio Porto, atribuiu o desempenho ao cenário de restrição de crédito em que foi gestada a safra, no início de julho. "Sem dúvida, os produtores pisaram no freio por causa da sinalização dos preços que estão aí (...) Mas a saída das tradings do mercado e a renegociação das dívidas, que estourou os limites de crédito, tiveram peso forte nisso". Para ele, o resultado não tem relação com o agravamento da crise mundial de crédito.

A Conab estima que o volume colhido na nova safra pode ser ligeiramente inferior ou superior que no ciclo anterior (143,8 milhões de toneladas). A colheita deve ficar entre 142 milhões (queda de 1,2%) e 144,5 milhões de toneladas (aumento de 0,5%). Embora a produtividade projetada seja menor, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, está otimista. "Vamos superar o uso de fertilizantes neste ano porque a agricultura não tem como parar", afirmou ele.

Mas as indústrias de adubo confirmaram que o ritmo das vendas, aquecido no primeiro semestre, já está menor do que em 2007. Em oito meses deste ano, houve um acréscimo de 10%. No mesmo período do ano passado, as vendas haviam crescido 44,7%. Ainda assim, a projeção é chegar a 26,5 milhões de toneladas, bem acima das 24,6 milhões de 2007. "A agricultura tem um sistema próprio e suas regras. Temos que ter tranqüilidade", afirmou, em referência às dificuldades de crédito bancário.

O levantamento da Conab, fechado em 20 de setembro, projeta uma elevação de 1,2% a 2,7% na área plantada, que poderá variar de 47,8 milhões a 48,6 milhões de hectares. A soja, cujo índice de liquidez supera o das demais cultura, deve ser a mais beneficiada por um aumento de até 3,2% na área, agregando de 272 mil a 686 mil hectares. A soja ocuparia, assim, entre 21,6 milhões e 22 milhões de hectares. Na outra mão, o milho deve perder até 250 mil hectares, reduzindo a área total para até 9,4 milhões de hectares.

O ânimo dos produtores, detectado pelos pesquisadores da Conab, aponta para um aumento de até 2% na produção de soja, que poderá chegar entre 60,1 milhões a 61,3 milhões de toneladas. A produção de milho deve recuar de 58,6 milhões para entre 56 milhões (4,5% menos) e 55 milhões de toneladas (6% menos).

"Mas não haverá problemas com abastecimento interno porque temos estoques e ainda devemos exportar uma boa parte de produção", afirma o diretor Silvio Porto. Os embarques poderiam somar até 10 milhões de toneladas e os estoques finais estão projetados em 12,8 milhões de toneladas, uma redução de 1 milhão de toneladas em relação à safra anterior.

Vilões da inflação dos alimentos neste ano, feijão e arroz devem ter boa performance na nova safra. Mesmo com os estoques mais baixos das últimas oito safras, a produção de arroz deve crescer até 193 mil toneladas, para 12,25 milhões de toneladas. Somadas, as três safras de feijão devem render até 3,6 milhões de toneladas (3,5% mais). Sozinha, a primeira safra deve aumentar 15%, para 1,43 milhão de toneladas. "Ninguém consegue prever os preços, mas esperamos leve crescimento para remunerar os produtores. Mas nada que afete o bolso do consumidor", disse o ministro Stephanes.(MZ)